Sou amigo do pai do guri de 17 anos assassinado segunda-feira à tarde no bairro Humaitá, em Porto Alegre, abordado por dois homens de bicicleta. O rapaz teria se assustado com a abordagem, fazendo um gesto brusco, interpretado pelos marginais como reação. Morreu no meio da rua, com um tiro no peito. É mais uma vítima, mais um número na estatística, mais uma notícia que se esvaiu na nuvem de violência que assola o Estado e o Brasil, numa espiral que revolta.
A insegurança é um fenômeno complexo. Passa pela crise econômica do país, flerta com os deslizes éticos de quem deveria zelar por nossos interesses – graças à procuração sagrada do voto – e mantém nuances no tecido familiar. É ali, dentro de casa, que os bons (e maus) exemplos afloram, tornando-se rotina para os filhos que têm, nos pais, o exemplo a ser seguido.
É hora de uma ação concreta, sob pena de uma rebelião social sem precedentes
O consumo de drogas está intimamente ligado ao genocídio de jovens. É um hábito onipresente. Aberta ou clandestinamente, as substâncias ilícitas circulam pelos mais diversos ambientes, inclusive nos lares, onde a hipocondria estimula o uso desenfreado de medicamentos, inclusive proibidos. O acesso a drogas em farmácias, facilitado pelo jeitinho na obtenção de receitas médicas, é comportamento tolerado. Também é estimulado pela maciça publicidade. Basta observar a grande quantidade de comerciais de medicamentos e o número de farmácias em funcionamento, onde há, sempre, um “gentil” balconista pronto a indicar uma solução mágica para todos os males.
A violência está cada vez mais próxima de nós. O assassinato do filho do meu amigo, citado no início desta crônica, provocou um desassossego dentro do mim. Com dois filhos – de 20 e 22 anos – é um martírio enfrentar os finais de semana. Seria devaneio pedir que evitassem a convivência com os amigos, mas o pavor que cerca cada saída noturna dilacera a nós, os pais.
A legislação é branda, permissiva, tornando-se um estímulo à reincidência. Também fomenta o uso de menores para perpetrar crimes hediondos. Como aquele que ceifou a vida da funcionária do Aeroporto Salgado Filho, cujo corpo foi abandonado à beira da BR-386. Foi assassinada com uma chave de fenda, sem chances contra dois assassinos. Um deles, de 16 anos, autor de dois homicídios, embora estivesse solto.
A revolta é generalizada. A tolerância está no limite. É preciso que os responsáveis pela segurança acenem com soluções eficientes para evitar que mais inocentes morram, sob pena de uma rebelião social.

