Ficou bem conhecida uma frase do livro “Macunaíma”. A frase é: “Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são”.
“Macunaíma” foi lançado há oitenta e oito anos e a tal frase vem passando de boca em boca desde aí. Em geral, aparece como piada, servindo mais para fazer graça com a sonoridade das palavras do que para oferecer um real diagnóstico dos problemas do Brasil.
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Em todo caso, e pensando bem, talvez Mário de Andrade, o autor de Macunaíma, não tenha feito apenas uma brincadeira.
Que a saúde falta neste país ninguém duvida. Faltam meios para preservar a saúde e faltam meios para tratar os problemas decorrentes. Sem a base da saúde, os estratos seguintes se equilibram precariamente, como a gente sabe.
Quanta à saúva, bem… A saúva é uma formiga, uma praga agrícola. Trabalhando em geral na calada da noite, as saúvas roubam folhas de plantas e as carregam para seus ninhos subterrâneos. Saúvas são capazes de danificar seriamente uma lavoura.
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Existem cerca de 200 espécies de saúvas. Em comum partilham o costume de depenar plantas que elas não plantaram.
Num formigueiro chegam a morar alguns milhões de indivíduos. Por ano, estima-se que um único ninho possa dar cabo de uma tonelada de vegetais.
Todo o formigueiro tem uma rainha. As demais formigas se dividem entre diferentes funções. Existem as cortadeiras, aquelas que carregam as folhas; existem as formigas enfermeiras, que cuidam dos ovos e ajudam a rainha a tomar conta dos filhotes; existem as formigas lixeiras que se encarregam de manter limpa a colônia e existem também as formigas-soldado, cuja incumbência é proteger a rainha e defender o ninho.
O formigueiro trabalha como uma orquestra. Cada formiga sabe o que tem de fazer e faz.
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Ultimamente estamos conhecendo um pouco melhor o funcionamento do “formigueiro” da administração pública – ao menos em nível federal.
Vemos a ampla migração dos recursos destinados a obras… A la pucha que o “formigueiro” funciona! Até se identificam funções diferentes no ninho. Existem os indivíduos que cortam; aqueles que carregam; aqueles que distribuem; aqueles que alcançam e aqueles que recebem. E, claro, sempre tem a “rainha” ou as rainhas. Estas formigas são as mais difíceis de jungir. Em torno delas o grupo de soldados faz barricadas quase intransponíveis…
A organização deste formigueiro é tão assombrosa quanto a organização de uma colônia de saúvas.
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Isto mesmo. No fim das contas pode ter sido um achado dizer que “pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são”.