O texto de hoje traz informações importantes para você leitor conhecer sobre o TOC. Isso o ajudará a identificar os sintomas e adotar formas de lidar com eles. Isso é particularmente importante porque, muitas vezes, já se habituou aos rituais que passaram a fazer parte da sua maneira corriqueira de funcionar, perdendo a noção do que é normal e do que é exagerado, convivendo com seus sintomas com naturalidade, mesmo que eles lhe tomem muito tempo.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) se caracteriza pela presença de obsessões e/ou compulsões suficientemente graves para ocupar boa parte do tempo do paciente (pelo menos uma hora por dia), causando desconforto ou um comprometimento importante das atividades diárias, do desempenho profissional e das relações interpessoais e familiares.
Segundo a psicóloga Ivone Brito, obsessões são ideias, pensamentos, imagens, palavras, frases, números ou impulsos involuntários que invadem a consciência de forma repetitiva e persistente. O indivíduo, por sua vez, mesmo desejando ou fazendo esforços, muitas vezes não consegue afastar ou suprimir esses pensamentos. As obsessões são sentidas como estranhas ou impróprias e geralmente acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer. “Em geral são tomadas como verdadeiras, e mesmo quando consideradas absurdas ou sem lógica, causam aflição, compelindo o indivíduo a fazer algo ou a evitar fazer algo (dependendo do tipo de obsessão) a fim de se livrar do medo (neutralizá-las). Exemplos incluem lavar as mãos, fazer verificações, repetir tarefas para que não aconteçam falhas e para o indivíduo não ser responsabilizado, evitar tocar em objetos considerados perigosos, contar, etc”.
Compulsões são comportamentos ou atos mentais repetitivos, executados em resposta a obsessões, ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigorosamente, como lavar as mãos, contar, repetir frases ou números, guardar ou armazenar, repetir perguntas, etc. As compulsões produzem o alívio momentâneo da ansiedade, sendo que o indivíduo é levado a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão. Não possuem uma conexão realística com o que desejam prevenir. Por exemplo: apagar e acender a luz seis vezes para impedir um acidente de carro. Também é comum a lentidão na execução de tarefas, a protelação e, em particular, as evitações.
Compulsões mentais, algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas porque são realizadas mentalmente: repetir palavras especiais ou frases/rezas, relembrar imagens ou cenas, fazer contagens ou repetir números, fazer listas, marcar datas, tentar afastar pensamentos indesejáveis substituindo-os por pensamentos contrários, etc.
Evitações, em função de seus medos, o portador de TOC passa a evitar tocar em objetos e frequentar certos lugares ou afastar certos pensamentos que, no seu entender, podem provocar desastres ou condenações. Exemplos: não tocar em objetos, móveis ou utensílios considerados contaminados; não se sentar em sofás, camas ou assentos de ônibus por medo de contaminação ou sujeira; não tocar em dinheiro, trincos de porta, não cumprimentar pessoas, etc. sem lavar as mãos depois; não usar banheiros públicos; não entrar em casa com os sapatos ou roupas usados na rua; não frequentar lugares públicos, como hospitais, praças, considerados sujos ou contaminados; não passar por baixo de escadas, não pronunciar determinadas palavras; procurar livrar-se de pensamentos que assustam etc.
Neutralização, diz respeito a todas as manobras que o paciente inicia voluntariamente, como rituais, repetir perguntas ou explicações, substituir pensamentos, buscar reasseguramentos. A neutralização tem o objetivo de reduzir o medo, a aflição, a responsabilidade, a dúvida ou o risco imaginado. Pode ser encoberta (mental) ou manifesta.
Ivone ressalta que a terapia comportamental do TOC parte do principio de que medos que foram aprendidos podem ser desaprendidos através da exposição e prevenção a rituais. “De fato, terapias comportamentais que levam ao enfrentamento de tais medos mediante a exposição e prevenção de rituais podem levar ao completo desaparecimento dos sintomas, mesmo quando provocados por problemas neurológicos”.
Existem também evidências de que no TOC são comuns pensamentos e crenças distorcidas como exagerar o risco de contrair doenças, de se contaminar, exagerar a responsabilidade que o indivíduo tem de provocar ou impedir que eventos ruins aconteçam (“Se meu carro for roubado e eu não tiver verificado se a porta estava bem fechada, a responsabilidade será toda minha”), com perfeccionismo (não posso falhar) ou a valorização extrema dos pensamentos e do controle (“Se eu tenho um pensamento ruim, posso praticá-lo!” ou “Pensar em algo ruim pode fazê-lo acontecer”), com a necessidade de ter certezas para não cometer falhas (“Se eu falhar, não irão me perdoar!”). “Acredita-se que tais crenças contribuam para o surgimento e a manutenção do TOC”.
Trabalhos recentes têm demonstrado que a terapia cognitiva, ou seja, a correção de tais crenças e de pensamentos distorcidos é efetiva na redução dos sintomas obsessivo-compulsivos.
Por: Ivone Lúcia Brito: Psicóloga/ Neuropsicóloga
Fonte: site www.ufrgs.br/toc