Arroio do Meio – Depois de uma série de mudanças na legislação que disciplina a profissão de motorista e o acréscimo no valor das multas de trânsito, empresários avaliam e prospectam o futuro do setor. Afirmam que há inúmeras dificuldades e divergem da obrigatoriedade do exame toxicológico para profissionais das categorias C, D e E. Para os empresários, uma das maiores dificuldades é a ineficiência do poder público, principalmente na manutenção das rodovias.
Regras mais rígidas
O Tenente Coronel Ordeli Savedra Gomes é pós-graduando em Gestão e Legislação de Trânsito e observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV). Escritor e palestrante, ministra cursos de atualização de trânsito em todo o território brasileiro. É ainda coordenador no Rio Grande do Sul do movimento internacional Maio Amarelo.
Para ele a alteração do Código de Trânsito Brasileiro e da CLT, que ocorreu em 2015, disciplinou os condutores profissionais, categoria para a qual não havia nenhum regramento anterior à data. Cita como exemplo a obrigatoriedade do exame toxicológico para motoristas profissionais, a lei do descanso e a elevação do valor das multas em 50% como medidas importantes para um trânsito mais seguro. “Portanto, entendo que a legislação avançou, pois a sociedade brasileira, os empresários e os motoristas profissionais, precisavam ter regramento, quer para seus direitos e de forma especial, ou no que diz respeito para segurança viária”, observou.
Define a lei que obriga o condutor das categorias C, D e E a submeter-se ao exame toxicológico no momento da renovação da CNH como um avanço, e defende que a medida seja estendida aos demais condutores. “A aplicação da lei deve ser para todos. Não podemos discriminar determinadas categorias de habilitação”, revela.
O especialista em trânsito vai além. “Penso que deveríamos evoluir e termos já em uso o ‘drogômetro’, pois, a exemplo do ‘etilômetro’, serviria para verificar no horário e local da fiscalização, o eventual uso de drogas”, finaliza.
Transporte de passageiros
O sócio-proprietário da empresa Expresso Azul e Arroio do Meio, Carlos Alfredo Glufke, afirma que o setor está estagnado. Segundo ele, as empresas precisaram se adaptar e cumprir uma série de exigências e obrigações. Em contrapartida, não receberam o aporte necessário por parte do poder público. Cita a má conservação das estradas, cálculo tarifário desatualizado e as gratuidades que aumentaram nos últimos anos, como as principais causas da crise no setor. “Isto tudo dificulta a atividade”, observa.
A respeito do exame toxicológico o empresário salienta que ainda não há estudos que comprovem a eficácia da lei. Ressalta ainda que a portaria que dispõe sobre a medida possui muitas lacunas e isso faz com que prejudique a atividade em alguns aspectos. “Não existem argumentos consistentes que provem uma relação de evolução ou regressão na profissionalização dos condutores em virtude dos exames toxicológicos. No entanto, sabe-se que a nova legislação foi extremamente favorável aos laboratórios”, revela.
Concorda que a elevação do preço das multas em mais de 50% pode inibir a imprudência, uma vez que reduzirá condutas inadequadas. Porém observa que programas de conscientização devem ser implantados para reduzir condutas inadequadas por parte dos motoristas. “Devemos proporcionar alternativas, não somente a punição”, opina.
Glufke é pessimista em relação ao futuro das empresas de transporte dizendo que estas não recebem nenhum tipo de apoio, tornando o setor mais inseguro a cada ano que passa. “As perspectivas são muito instáveis para as empresas operadoras”, finaliza.
Transporte de carga
Com 186 cooperados, entre pessoas físicas e pessoas jurídicas, a Vale Log é a maior cooperativa de transporte da região. Conforme o presidente Adelar Steffler os cooperados são constantemente avaliados mediante exames aplicados por psicólogos. Para qualificar os profissionais, realiza ainda cursos de direção defensiva, direção econômica, primeiros socorros, cargas indivisíveis, entre outros.
Como avanço, Steffler cita a tecnologia dos veículos de carga, que melhorou muito nos últimos anos. Por outro lado, lamenta o estado de conservação das rodovias brasileiras que se encontram em péssimas condições de trafegabilidade. A malha viária, velha, defasada e ultrapassada eleva o custo do frete na mesma proporção que aumenta o consumo de combustível e manutenção do veículo. Por isso, defende investimentos urgentes nas rodovias de todo o país. “As rodovias federais e estaduais não estão suportando o elevado número de veículos que nelas circulam. Investimentos precisam ser feitos”, disse.
Quando perguntado sobre as novas regras que começaram a vigorar em 2015, a exemplo da lei do descanso e a obrigatoriedade do exame toxicológico, Steffler diz ser favorável, uma vez que essas medidas qualificam o profissional. “Dessa forma, trabalharão somente profissionais qualificados e comprometidos com a profissão”, salienta.
Sobre o transporte de carga o empresário não vê boas perspectivas para empresas de pequeno porte. Acredita que autônomos devem desaparecer do cenário, uma vez que são muitas as exigências impostas pelo mercado. “Tu não tem como competir com os grandes”, observa.
Por outro lado, vê as cooperativas organizadas como uma boa alternativa de negócio, uma vez que são muitas as vantagens desse tipo de organização. Cita como exemplo a compra de combustíveis, aditivos e pneus, os quais são adquiridos diretos dos fabricantes, sem a interferência do atravessador.
Frota de Arroio do Meio (outubro)
Caminhão e caminhão trator – 688
Utilitários, caminhonetes e camionetas – 1560
Reboques – 564
Automóvel – 7.879
Motocicleta, motoneta e ciclomotor – 3.839
Ônibus e micro-ônibus – 99
Tratores – 48
Outros – 12
Total – 14.689
(Fonte Detran-RS)
Arroio do Meio possui 85 empresas de transporte.
Destas, 75 transportam mercadorias e 10 passageiros.