Não passa uma semana sem uma briga lá em casa. Em termos de família, os leitores irão convir, é algo normal. Sim, muito normal porque atrás dos belos ditados e comerciais de margarina da tevê – falando de casa, filho, marido/esposa, compartilhamento de bons momentos – existe a realidade. E o dia a dia sob o mesmo teto é um festival de broncas, risadas, contratempos, lágrimas e, se tudo der certo, conciliação.
A peleia é garantida repito que pretendo viver até os 65 anos. Nem mais, nem menos. Minha mulher invoca nossos dois filhos que ainda são jovens, que sou responsável por eles, pela casa, pelas contas… blá, blá, blá. Ouço, mas os argumentos dela não me sensibilizam.
Até os 65 anos – ou seja, daqui a oito Natais – espero ter saúde e disposição para cumprir sozinho coisas básicas do ser humano: acordar, tomar banho, fazer a barba, ler jornal, caminhar, ir ao banheiro, me alimentar, entre outras atividades normais de uma pessoa com razoável saúde.
Repito à família que não suportaria ter as fraldas trocadas pelos meus filhos, numa insuportável inversão de tarefas que eu cumpria quando eles eram bebês. Também detestaria me privar das gostosuras diárias como chocolate, bergamota, churrasco, queijo, pizza, pastel, salamito, entre outras. Também não quero ser privado de cerveja, uma taça de um cabernet ou de uma caipirinha.
Não quero chegar ao ponto de usar uma mala somente para acomodar os meus remédios…
Esta história de “melhor idade”, já escrevei aqui, é uma sacanagem consagrada por farmácia e laboratórios, e também por clínicas geriátricas, lugar em que odiaria morar. Já pensou encarar todos os dias uma geladeira com cadeado e sem as garrafinhas verdes de Heineken, suadas de tão geladas, sem poder tomar?
Admiro aqueles que enfrentam a velhice com resiliência. É um neologismo que significa sobreviver diante de reveses ou mudanças drásticas de vida. Já enfrentei muitas alterações na vida, mas apesar da minha assumida ansiedade, “sosseguei o facho” preferindo um estilo de menos enfrentamento, mais contemplação. Tarefa – confesso –difícil de cumprir.
Uso medicamentos para hipertensão, alergias (temporariamente… espero) e colesterol. Tão cedo não pretendo ampliar meu arsenal a ponto de usar duas malas em viagens – uma para roupas/calçados, outra para acomodar as drogas de uso contínuo.
Se tudo der certo, você, amigo leitor, terá “somente” oito anos de textos chatos e repetitivos de narrativas sobre filhos, família, doenças e outras mesmices. Qualidade de vida é uma obsessão da qual não abro… até os 65 anos!

