Um assunto que provoca polêmicas acaloradas envolve o trabalho infantil. Não se pode ignorar a importância da ocupação de jovens, mas também é necessário admitir que existem excessos que comprometem a infância e o futuro de milhares de crianças, principalmente em cidades pobres.
O Poder Judiciário e o Ministério Público realizam um notável trabalho de fiscalização para impedir a exploração de mão de obra infantil. Criança precisa de amor e escola, isto é pacífico. Ao mesmo tempo nota-se um rigor extremado onde o radicalismo impede que jovens aprendam ofícios que serão valiosos no futuro.
O trabalho precoce é eficiente antídoto no combate às drogas, principalmente junto às comunidades vulneráveis que oferecem poucas oportunidades de ocupação. Conheço inúmeros empresários que nutrem simpatia no emprego de adolescentes, mas que, diante dos obstáculos impostos pela legislação, preferem evitar riscos.
Com 12 ou 13 anos comecei a trabalhar na empresa Kirst & Cia., rebatizada de Bebidas Fruki. Meu avô, Bruno Kirst, foi fundador desta fábrica de refrigerantes que revendia diversas marcas de produtos de outras indústrias. Meu pai, Gilberto Delmar Jasper, costumava me levar para passar o dia na empresa nos períodos de férias.
A criança é o bem maior da família. Por isso deve ser, sempre, protegida
Eu tinha até um cartão-ponto para assinalar meus horários. Na hora do recreio devorava um sanduíche ou nacos de bolo caseiro preparado pela minha mãe, dona Gerti Jasper, com os demais operários. A única diferença em relação aos outros operários é que eu não recebia salário ao final do mês.
Um pouco maior passei a trabalhar no escritório. Ali carimbava talões, recolhia atilhos de borracha e clipes, além de grampear tabelas de preço copiadas num mimeógrafo a álcool. Também ajudava no serviço de banco com meu pai. Se necessário colava rótulos em garrafas de vidro, usando uma cola caseira feita a partir de polvilho, sentado num minúsculo banco de madeira tosca.
Todas estas experiências serviram para forjar em mim a certeza de que o trabalho é fundamental na formação do caráter, na valorização do esforço recompensado e no aprendizado permanente de convivência. Jamais me revoltei. Reconheço, porém, que a flexibilização desmedida da lei pode causar a exploração de jovens e menores de idade.
Agradeço a oportunidade de aprender, de reconhecer o quanto é importante trabalhar para conquistar o que quero, preciso e gosto. É fundamental ter equilíbrio – como em tudo na vida – e oferecer vagas e funções compatíveis com o adolescente, sem jamais usurpar a lei.
O trabalho enobrece, mas impõe bom senso para não ser instrumento de exploração, escravidão e outros tipos de abuso. A criança é o bem maior da família. Por isso deve ser preservada e valorizada. Sempre!

