Pela enésima vez vou transgredir uma norma firmada pela minha falecida mãe, dona Gerti Jasper, em relação aos temas desta coluna:
– Meu filho, por favor: escreve sobre filhos, família, recordações de Arroio do Meio, qualquer coisa. Menos sobre política!
As pessoas estão revoltadas com a política. Na verdade, não é com a política, mas com os políticos que não honram a procuração que recebem de todos nós que – infelizmente! – escolhemos sem o devido critério e sem fiscalização posterior à eleição.
Há dois dias, Marcelo Odebrecht, o príncipe das empreiteiras e da corrupção oficializada no Brasil, deixou a cadeia depois de dois anos encarcerado, fato inimaginável há algum tempo. Um dia depois, Paulo Maluf, que se transformou em símbolo do que existe de pior na política, apresentou-se à Polícia Federal, aos 86 anos de idade, para cumprir uma pena em regime fechado. Muitos ex – e aí se incluem governadores, deputados, senadores e ministros, entre outros – foram investigados, condenados e presos.
A manifestação do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, numa esgrima verbal com o colega Gilmar Mendes, traduziu o sentimento que permeia a mente dos brasileiros decentes. O magistrado da mais alta corte brasileira afirmou que não se pode passar às gerações futuras a ideia de que o Brasil é o país onde pessoas ricas e os políticos podem cometer crimes e permanecer impunes. Acrescentou que tudo que se viu, leu e ouviu ao longo de três anos da Operação Lava Jato precisa ser transformado em lição, punição e exemplo para sanear o país.
O Brasil nos envergonha, mas é feito por nós e por aqueles que elegemos
Costumo comentar com amigos da minha faixa etária, entre 50-60 anos, que a nossa geração jamais ouviu falar na palavra “ética”. Mesmo assim, todos os dias nossos pais e professores cobravam comportamentos respeitosos, dignos dos valores que nos legaram e que honravam nosso sobrenome. Em resumo, nos ensinavam na prática os conceitos éticos.
Nós, jovens moradores que moravam em cidades pequenas como Arroio do Meio, éramos conhecidos como o “filho do fulano, do cicrano ou do beltrano”, numa alusão a nossos pais. Este hábito era um fardo porque nos privava de muitas coisas atraentes para nós, jovens. Tudo por medo de denegrir o nome de nossa família.
Apesar do mal estar, aprendemos a viver com respeito, dignidade e ética para conviver com humanismo. O Brasil nos envergonha, mas não se pode esquecer que é feito por nós e por pessoas que escolhemos a cada quatro anos.
As tentações são enormes, as facilidades são onipresentes. A vida está difícil, a crise corroeu milhões de empregos, as dificuldades se multiplicam, mas é preciso ser vigilante para driblar o diabo que existe em cada esquina. O exemplo de dentro de casa ainda é, de longe, o melhor preventivo às armadilhas da vida.
A leitoras e leitores, um Natal abençoado e um 2018 de construções, realizações e bons exemplos a seguir!

