A intervenção federal no Rio de Janeiro desde o dia 16 de fevereiro para colocar ordem no avanço e domínio da criminalidade, está sendo encarada como uma ação necessária, porque algo tinha que ser feito. Ainda não se sabe que efeito terá e por quanto tempo, nem que impactos terá nos demais estados do Brasil que praticamente, sem exceção, sofrem dos mesmos problemas, talvez com menos visibilidade. Diante da complexidade das propostas e ações que envolvem o combate e prevenção do crime falamos com o Capitão Ricardo Machado que comanda oficialmente o 22º Batalhão de Polícia Militar de Arroio do Meio desde agosto do ano passado com foco voltado para pontos mais vulneráveis. Na Brigada Militar desde 2008, o Capitão Ricardo é cauteloso nas ponderações sobre as medidas que estão sendo tomadas na Segurança Pública Nacional e diz que baixar a febre sem tratar a doença não será suficiente. Em termos locais, apesar da falta de efetivo elogia o comprometimento dos policiais militares e destaca a importância da participação da sociedade na prevenção e no apoio à Brigada.
Acredita que as ações e decisões tomadas a partir da Intervenção Federal podem trazer de volta a segurança ao Rio de Janeiro ?
Com certeza não de modo duradouro. É louvável que a União leve a efeito alguma medida, porém “segurança pública” é um fenômeno tão complexo que ações pontuais, como a intervenção federal, podem resultar somente em efeitos no curto prazo (prisões de criminosos, sensação de segurança na comunidade pela visualização de operações policiais etc), porém sem atingir a causa da insegurança. É como tratar a febre e não a doença que a gera. Obviamente, é importante empreender tais esforços, no entanto o problema é anterior e mais profundo.
Que efeitos para os outros estados, a exemplo do Rio Grande do Sul, podemos esperar?
Acredito que a situação do Rio de Janeiro pode repercutir nos outros Estados. Depende de qual medida (e sua intensidade) for tomada naquela unidade federativa. O crime pode migrar para outros Estados se a repressão for muito intensa. Também eventuais alterações no sistema carcerário (transferências de criminosos, por exemplo) podem estabelecer novos rumos para as organizações criminosas que atuam dentro dos presídios. Difícil antever as repercussões sem saber exatamente o que será realizado, porém, no campo do fenômeno criminal, há muitas variáveis e a alteração de qualquer delas pode gerar resultados (negativos) em outros locais.
Como está o efetivo local e quais têm sido os maiores desafios?
O efetivo da BM de Arroio do Meio é carente em quantidade e mais do que suficiente em qualidade operacional. Em quantidade, estamos na mesma situação dos outros municípios do Estado, ou seja, precisando de efetivo. No entanto, em qualidade, temos um capital humano altamente comprometido. É corriqueiro Policiais Militares nossos atuarem de folga e até mesmo em férias. Esses fatos falam por si. As prisões que estão sendo realizadas na cidade, em especial com relação ao tráfico de drogas, refletem isso. Apesar de todas as dificuldades, estamos apresentando resultados a olhos vistos e o futuro apresenta uma boa perspectiva, pois aguardamos a destinação de novos soldados do concurso que está em andamento. Vejo como grande desafio (de todos) a compreensão de que a sociedade deve fazer a sua parte. Compreender que todos têm a responsabilidade de denunciar, de apoiar as forças de segurança e de atuar de forma preventiva. Quem compra uma TV pela metade do preço de mercado se acha esperto, porém a “sua esperteza” é fomentar o crime de furto prejudicando toda a sociedade, seus amigos, seus parentes e a si próprio. É como dizer para o criminoso: pode seguir furtando que terá quem compra o produto de seu furto! O sistema de segurança é complexo, mas estamos fazendo a nossa parte. O desafio, para mim, é a mudança de mentalidade de todos nós.

