As eleições de outubro terão diversos detalhes inéditos. A começar pelo tempo exíguo de pouco mais de 40 dias de campanha eleitoral, sem falar das restrições impostas pela legislação para a propaganda de todo tipo – material impresso, programas de rádio e televisão. A novidade será a potencialização das redes sociais como instrumento de convencimento ou de distorção da verdade, via fake news.
Antes que o prezado leitor e leitora desistam de continuar esta leitura, a idade – sempre ela! – me transporta para os tempos eleitorais onde havia mais espaço para o contato direto com os eleitores, sem veiculações na mídia eletrônica.
Meu pai, o contabilista Gilberto Delmar Jasper, teve a honra de exercer um mandato de vereador em Arroio do Meio nos idos de 1968, eleito com 333 votos. Era tempo do bipartidarismo: ou o eleitor era adepto do partido do governo – a Arena – ou era da oposição, do MDB. Foi eleito como prefeito o arenista Benito Johann, com 3.255 votos, contra 2.941 sufrágios de Rubens Wienandts, do MDB.
O velho Giba era emedebista, que recebia visitas à noite de lideranças como Pedro Simon e Paulo Brossard. Ao lado de Arnesto Dalpian, Adolfo Poletto, Erico Kuhn, Anivo Hofstetter, Balduin Lagemann, Benno Arno Schmidt e a pioneira mulher da política, Carmenzita “Tita” Friedrich, entre outros, montavam estratégias para driblar a rígida censura da época onde reunir-se em locais públicos, sem prévia autorização, era arriscado.
Muita coisa mudou, mas se mantém o nosso compromisso de votar bem!
Os comícios eram esperados com ansiedade pela população. Nas localidades do interior o improviso era comum. Lembro de uma destas reuniões, em Arroio Grande, num bolicho onde o balcão servia de mesa principal para os candidatos. A escuridão era iluminada por lampiões que pendiam de colunas de sustentação. Os salões de baile eram reservados para concentrações maiores.
A noite da véspera da eleição era tensa. O pleito era sempre realizado no dia 15 de novembro. Uma semelhança com aqueles velhos tempos é a “desova” de santinhos. Era preciso dar fim ao estoque de qualquer maneira!
Isso incluía incursões por linhas e picadas do interior. Era comum arrancar propagandas dos adversários. Mas no retorno à cidade se constatava que os adversários faziam o mesmo. Era um tal de tira e bota santinho em vários lugares que somente o cansaço dava fim à “guerra do papel”. No dia da eleição, o transporte de eleitores era quase explícito. Por fim, chegava o momento mais tenso: o chamado “escrutínio” (contagem) dos votos.
Inicialmente todo o processo acontecia em Lajeado. Para acompanhar o “voto a voto” todos ligavam na Rádio Independente, em transmissões memoráveis lideradas pelo saudoso Lauro Mathias Müller. Proclamado o resultado acontecia a carreata com foguetório e o pagamento das apostas que incluíam engradados de cerveja, toneladas de churrascos e vultosas quantias em dinheiro.
Reminiscências intactas, arquivadas em corações e mentes de “jovens há mais tempo”, como eu, que flertam com a condição de sexagenário. Os métodos mudaram, a campanha também. O que permanece inalterado é o compromisso de votar bem!

