Ver “mulher pelada” era um sonho para quem foi piá/adolescente nas décadas de 70 e 80, como eu. As revistas, contrabandeadas por amigos mais velhos ou trazidas dos Estados Unidos, quase sempre a lendária Playboy, eram soluções impensáveis para a maioria.
Existiam também livros de bolso, recheados de cenas calientes, ricas em detalhes que deixavam a piazada alvoroçada. Páginas e páginas de “preliminares” alimentavam a imaginação numa fábrica de fantasias picantes.
Obras de Cassandra Rios também circulavam, mas eram bastante raras. O grande sonho era completar logo 18 anos, assim poderíamos assistir aos filmes “de mulher pelada”.
Naquela época existiam fiscais do Juizado de Menores. Eles perambulavam pelas salas escuras dos cinemas, festas, bailes, bares, de olho naqueles que queimavam etapas. Ser flagrado era um grande constrangimento porque submetia os pais a um vexame de proporções municipais.
Em Arroio do Meio – cidade onde nasci e passei minha adolescência – tinha cerca de 5 mil habitantes. Domingos à noite havia sessão dupla e frequentemente eram exibidos filmes “impróprios para menores”.
Fiscais do Juizado às vezes ficavam na saída para flagrar os menores
Assim que os cartazes eram afixados no hall do cinema começávamos a imaginar o roteiro, com detalhes de sedução. Imitávamos a voz do galã e os mais ousados forjavam gemidos femininos de prazer.
Vera Fischer, Sônia Braga, Nicole Puzi, Matilde Mastrangi, Aldine Müller, Sandra Barsotti, Angelina Muniz, Sandra Bréa, Helena Ramos, Zaira Bueno, Adele Fátima, Selma Egrei, Lucélia Santos eram nomes que faziam suspirar. Ver um destes talentos brasileiros – ou mais de um – em destaque no cartaz era garantia de “filme adulto” e muita emoção.
Ainda “de menor” consegui assistir a alguns filmes, graças à amizade forjada com um arrendatário do Cine Real, de Arroio do Meio. O acesso era digno de uma trama de suspense, pontilhado de perigos, manobras e sustos.
O acesso ao mezanino só era autorizada quando iniciava a exibição do Canal 100 – com os gols dos principais jogos de futebol do país e notícias da semana – e as luzes fossem desligadas.
Num canto escuro, sem ninguém por perto e quase sem respirar (de medo), grudava os olhos na telona. O noticiário e os trailers pareciam intermináveis até começar o “filme proibido” que, em muitos trechos, me deixava vexado. A parte ruim da burla à lei era a necessidade de abandonar o “local do crime” antes do final para fugir dos fiscais que às vezes esperavam na saída.
Confesso que nem sempre compreendia o enredo, mas isso era secundário. Bom mesmo era encontrar a gurizada depois e me gabar de ter assistido ao filme, caprichar nos detalhes, exagerar bastante e sair com pinta de adulto.
“Como é bom ser adulto”, pensávamos inocentemente… (Publicado em meu blog “Em Outras Palavras” em fevereiro de 2016)

