Você não vai acreditar. Mas é fato. Dancei samba em Tbilisi – se é que se pode chamar de samba isso que dancei…
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Tbilisi é a capital de uma das unidades que pertenceu ao antigo bloco soviético, a Geórgia, país que faz hoje fronteira com a Rússia, a Turquia e a Armênia. Tbilisi dá lições de história ao vivo. Teria sido fundada lá pelo século V e, desde então, foi passando por extensas transformações, uma vez que andou de mão em mão, por assim dizer. Alternou períodos de independência com a submissão a diferentes povos: os persas, os árabes, os mongóis, os turcos. Por isso mesmo, tem edificações de todos os estilos. São fortalezas, castelos, igrejas de diferentes confissões religiosas, monumentos a diferentes heróis, tudo misturado num conjunto tão charmoso quanto caótico.
No idioma russo, Tbilisi é Tiflis, palavra que faz referência às águas quentes sulfurosas abundantes no território. Desde tempos remotos se acredita que essas águas com cheiro de enxofre têm poderes milagrosos. Por esta razão, as termas permanecem sendo importante atração até hoje. O lado negativo é que o cheiro dessas águas é – digamos assim – um tanto desencorajador…
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Num dos dias passados em Tbilisi fui com amigos a um restaurante típico, desses com danças folclóricas e música ao vivo. Tudo muito bom, embora não ficássemos impressionados com nenhuma delícia da culinária local.
Num intervalo da música, ganhou destaque uma alegre mesa de gurias, que comemorava o aniversário de uma delas. Embaladas pelo excelente vinho da Geórgia e pelo afã da comemoração, as belas georgianas tomaram conta da pista e foram chamando os demais clientes para se juntar à comemoração. Os demais clientes, diga-se de passagem, também tinham bebido o excelente vinho da Geórgia e não foi preciso convidar duas vezes. Lá foram eles. Lá fomos nós.
Na alegre mistura que se formou, apareceram as nacionalidades ali presentes. Além dos vizinhos: turcos, armênios, russos, uma brasileira!
– Brasileira?
Quando a notícia se espalhou, a aniversariante e suas amigas me cercaram em alvoroço. “It’s my dream country!” diziam elas. “It’s my dream country!” (É o país dos meus sonhos!). E não deixaram por menos. Foram escarafunchar nos bastidores do restaurante até achar uma música que eu nunca tinha ouvido. Um samba, estilo arrasa-quarteirão, cantado em bom português, que repetia e repetia uma frase: “Samba do Brasil, samba do Brasil, samba do Brasil”.
A sorte foi que todo o pessoal achava que sabia dançar samba e nem reparou no meu passo desconjuntado, que ficou sendo samba também…
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Confesso que o ridículo da minha dança ia sumindo, à medida que a música brasileira enchia a noite de Tbilisi. A milhares de Km de casa, num país de língua simplesmente incompreensível, que escreve com caracteres estranhíssimos, ouvir a alegre batucada brasileira fez meu coração pulsar no mesmo compasso febril. De amor pelo Brasil.