Tenho mais de 40 anos de jornalismo. Neste tempo trabalhei em vários lugares e cidades. Ainda assim, com quase 60 anos, estou com “friozinho na barriga”. A partir do dia 1º de fevereiro enfrentarei um novo desafio ao trabalhar na Assembleia Legislativa. Será minha quarta passagem pelo Parlamento gaúcho para desempenhar a mesma função.
Apesar do trabalho conhecido estou ansioso, sentimento normal para mim. O desafio é controlar o nervosismo. Costumo dizer que a ansiedade é boa, desde que seja motivação para enfrentar uma nova experiência profissional.
Terei novos colegas, novo chefe, nova concepção política deste Brasil convulsionado pela divisão radical que rompeu amizades, rachou famílias e comprometeu parcerias de muitos anos ao longo da recente eleição.
Gosto muito da minha profissão. Acordo diariamente às 6h, mas não reclamo. Pelo contrário! Diante da portaria do prédio onde moro é uma alegria recolher os exemplares de três jornais diários de Porto Alegre. Depois me aboleto no sofá, munido de chimarrão, caneta e bloco para degustar as notícias.
Os conteúdos são compartilhados com dezena de amigos, ex-colegas e antigos chefes com quem trabalhei ao longo de quatro décadas de profissão. É uma motivação normal, embora admita que nesta época sonhava viver à beira mar para fugir do calor.
Trabalhar com gosto, fazer amigos e respeitar os colegas faz da obrigação uma atividade mais leve
Gostar do que se faz da obrigação de trabalhar em prazer ou, pelo menos, em uma atividade mais leve. Lembro-me do emprego burocrático que tive no começo da vida adulta. Passava oito horas entre papéis, ansioso para ir à faculdade à noite para dar vazão à minha vocação.
Foram alguns anos de frustração, mas no fundo sabia que venceria. Nunca pensei em enriquecer, ter fama ou ter uma vida fácil como jornalista. Imaginava viver entre notícias, conhecer lugares, pessoas diferentes, peregrinar por aí em busca de fatos e personagens.
Por nove anos fui repórter “de Geral”, editoria que é uma espécie de clínica geral dentro da redação de jornal. Conheci quase todo o Estado, uma experiência inesquecível. Depois enveredei para a política, como assessor de comunicação, e novamente as viagens me seduziram, apesar dos poucos momentos de intimidade com a família.
Desculpe desfiar aqui parte da minha vida, mas vejo tanta gente frustrada com a sua rotina que me considero um privilegiado, embora não tenha sido fácil. O mundo da comunicação é duro, disputado, dinâmico e restrito, com salários baixos e pouca valorização. Mesmo assim, a determinação supera obstáculo e pode – por que não? – nos realizar.
Só tenho a agradecer. Trabalhar com gosto e dedicação, respeitar colegas, encarar os desafios como oportunidade e fazer amigos fazem da obrigação um prazer que alegra a alma e ilumina o coração.