O calor e os dias mais extensos de verão, propícios a atividades na natureza, especialmente na água, dão ainda mais notoriedade à falta de investimentos públicos para um acesso mais adequado de embarcações e outros veículos aquáticos ao rio Taquari em Arroio do Meio.
O que é percebido por veranistas apenas nesta estação, tem sido um desafio para pescadores, barqueiros e aquaviários em geral, nos demais períodos do ano. A inexistência de uma rampa náutica e outras pequenas melhorias estruturais, culminam num desperdício de potencialidades e, para muitos, evidenciam um total desinteresse na valorização e respeito ao manancial que dá nome à Região.
Hoje a grande maioria dos mais de 40 proprietários de embarcações do município procuram marinas e rampas públicas, particulares ou de associações em municípios vizinhos como Lajeado, Estrela e Cruzeiro do Sul, onde também podem guardar seus barcos, lanchas e jet-skis, contam com amplos estacionamentos e até sedes sociais. A mensalidade nos estabelecimentos é em torno de R$ 250 e o valor para associar-se em alguns clubes é superior a R$ 15 mil, com acréscimo de uma anuidade.
Conforme estas pessoas, em território arroio-meense existem aproximadamente 20 quilômetros navegáveis quando o rio está um pouco mais cheio – 15 quilômetros do balneário até o salto em Palmas, na divisa com Colinas ou Roca Sales, mais três quilômetros até a divisa com Lajeado, e em torno de mais alguns quilômetros subindo pela foz do arroio Forqueta, dependendo da quantidade de água. Com jet-skis mais potentes, há quem diga que é possível ir até Travesseiro, quando a água extrapola mais de 70 centímetros a altura nas corredeiras.
Além de Arroio do Meio é possível navegar pelo Taquari até Bom Retiro do Sul, e quem tiver a documentação em dia pode descer a Barragem Eclusa, em direção ao Jacuí. O fato que mais decepciona os arroio-meenses é que outros municípios com menos potencial de uso hidroviário possuem rampa. Caso de Colinas, Encantado, Roca Sales, Muçum e Santa Tereza.
Atualmente, os poucos que acessam o rio em Arroio do Meio, só o conseguem em dias que as condições climáticas estão favoráveis. Eles alegam que durante e depois de chuvas, ou elevação do leito, a estrada fica de difícil acesso, inclusive para veículos com tração 4×4 rebocarem seus barcos e lanchas. E na Cascalheira o excesso de cascalhos e a forma irregular e imprevisível como ficam dispostos na margem e leito, inviabilizam investimentos de médio e longo prazo.
Para eles, investir no município seria uma forma de valorizar a comunidade e a economia local, além de despertar interesses náuticos para mais pessoas, viabilizando de pequenos a grandes novos nichos de mercado.
Lazer náutico com mais adeptos
Associado à Balsa P10 desde sua fundação em 2011, o morador do bairro São José, Márcio André Cazotti, tem como hobby curtir o rio Taquari em dias de folga e depois do expediente. A balsa, construída e registrada conforme padrões da Marinha, foi a primeira na Região e é utilizada por amigos para happy hours, possui som, churrasqueira e caixa térmica. “O pôr do sol, a brisa e o silêncio da natureza proporcionam momentos muito agradáveis. Hoje há pelo menos mais outras cinco balsas. A nossa fica atracada na marina de Lajeado”, compartilha.
Além da balsa, recentemente, em novembro, Márcio obteve a habilitação para conduzir motoaquáticas (jet-skis) e lanchas até 24 pés (7,3 metros). “São esportes que cada vez estão tendo mais adeptos. A sensação de liberdade, os paredões de pedras, a fauna e a flora são exuberantes. Nosso rio é maravilhoso, muito bonito, especialmente quando a água está límpida. Mas é pouco explorado, talvez por que muitas pessoas só o enxergam como enchente”, dimensiona.
Para Márcio, a construção da rampa está muito próxima de acontecer, o que facilitará a acessibilidade para aquaviários locais, diminuindo deslocamentos para outras cidades. “Pela profundidade da água, a rampa será interessante para barcos de pesca, lanchas de até 19 pés (6 metros), jet-skis e botes em geral.
Administração confirma construção de rampa
A construção da rampa no Balneário Municipal, voltou a ser pleiteada por líderes do bairro Navegantes com mais contundência desde 2017 e tem o apoio de empreendedores e de pessoas de outras localidades.
Também é reivindicada a instalação de sumidouros para amenizar os impactos do esgoto a céu aberto na orla, reparos da iluminação pública, reforma da escadaria e a limpeza da estrada lateral que chega nas imediações da cachoeira, defronte à antiga Ilha dos Kich. A comunidade acredita que o investimento por parte do Poder Público irá agir como uma espécie de indutor para revitalização do Balneário Municipal, além de estimular o empreendedorismo em médio e longo prazo.
Uma das intenções é reativar a sede social, buscar investimentos para instalação de banheiros com chuveiros e estrutura de camping. Futuramente uma das metas é buscar recursos do Ministério do Turismo para investimentos mais contundentes na revitalização da orla.
O coordenador da Secretaria Municipal de Planejamento, Fernando Enéias Bruxel, revela que como se trata de utilidade pública, o Departamento do Meio Ambiente já autorizou a intervenção em Área de Preservação Permanente (APP). Porém, a conclusão do projeto tem esbarrado no expediente da secretaria do Planejamento, que teve que priorizar o acompanhamento de obras ligadas a recursos federais, que tem prazos e etapas que precisam ser cumpridas para o empenho. A elaboração do projeto da rampa será feita logo após o período de férias, quando a equipe estiver completa. No entanto, vai dividir a atenção com os projetos de asfaltamento das ruas que tiveram financiamento de R$ 5,1 milhões aprovado pela Câmara em novembro. Segundo Enéias, a obra no Balneário é mais complexa do que parece. “O custo da estrutura de concreto não é tão baixo como inicialmente estimado por alguns representantes da comunidade. É necessário um bom ancoramento no subsolo e mesmo assim existem riscos de danos, apesar de cálculos para minimizar impactos, a força da água pode surpreender”, esclarece.
Além da rampa, a Administração pretende realizar uma repaginação do espaço do Balneário, que inclui soluções para o esgoto a céu aberto.
Promessas não cumpridas
O pescador profissional aposentado Valmir Ferreira, 65 anos, morador do bairro Navegantes, confirma que praticamente todos os moradores da ‘barranca’ possuem algum tipo de caíco, e seriam beneficiados de forma direta pela construção da rampa. “Hoje é complicado retirar as embarcações até quando estão vazias em dias de chuva. Quando estão carregadas de peixes é ainda pior. Considerando os atolamentos, além da rampa entendemos que a estrada precisa receber um material de qualidade ou pavimentação até o ingazeiro”, explica.
Segundo Ferreira, o investimento é muito inferior ao feito em áreas de lazer em loteamentos, e beneficiaria também outros proprietários de embarcações que hoje procuram outros municípios. “Há ampla área para estacionamento na sombra. Só é preciso realizar algumas melhorias para tornar o local mais atrativo”, explana.
Apesar da falta de investimentos, nos fins de semana de sol o antigo balneário é frequentado por cerca de 100 veranistas, para se divertir com caiaques, nadando ou na sombra. Mas o número está bem abaixo de quando o local era bem iluminado, possuía churrasqueiras, pontos de energia elétrica e contava com cuidados florestais e estruturais.
Infelizmente, de acordo com o pescador, além da construção da rampa, prometida pelos últimos prefeitos, o maior problema é a falta de tratamento de esgoto, que além de residências envolve também repartições públicas e empresas. “Desde a gestão do prefeito Antônio Setembrino de Mesquita nada foi feito”, relaciona.
O pescador, que usa seu barco para navegar até São Jerônimo, 150 quilômetros rio adentro, explica que peixes são animais sensíveis, e quando pescados em locais poluídos, ficam inapropriados para o consumo.