Ler um livro é viajar para outra dimensão. Na leitura, as palavras tomam forma através da imaginação, revelando lugares, personagens e enredos que marcam a vida dos amantes da leitura. Para a grande maioria, o próprio livro é um misto de agradáveis sensações. Incentivar a leitura, desde cedo, só traz benefícios.
Para a professora Vera Silveira Regert, o amor à leitura foi decisivo na escolha de sua profissão. Ela leciona em Arroio do Meio, na Escola Estadual de Ensino Médio Guararapes e tem seu trabalho citado como referência entre os alunos.
Tudo começou quando ainda era pequena. Curiosa, Vera ouvia atentamente as histórias que seu pai contava. “E elas me fascinavam. Ao ingressar na escola, descobri que os livros guardavam histórias também, as quais fui aos poucos aprendendo sozinha a desvendar. Uma paixão que me acompanhou pela vida escolar afora e que, chegando ao Ensino Médio, me fez optar pelo curso de Letras Português/Literatura”, lembra. A certeza de ter escolhido a carreira certa, faz Vera se entusiasmar, cada dia mais, com o universo literário.
A menina que iniciou lendo placas, folhetos, folhas avulsas de jornal, embrulhos e embalagens de produtos, as revistas de faroeste do irmão mais velho, documentos e a Bíblia, foi expandindo para as revistas em quadrinhos, cartilhas, contos de fadas e poemas, conforme cresceu. “Quando comecei a trabalhar, iniciei também minha biblioteca particular. O livro é um objeto precioso que, além de ler para conhecer, eu queria ter perto de mim”, explica.
Na escola, os livros são as ferramentas de trabalho para as aulas da professora, que lê e adquire praticamente todo o texto que lhe desperta interesse. A coleção particular conta com cerca de 800 obras e reúne best sellers e clássicos da Literatura Brasileira e mundial. “Insisto na necessidade de ler sobre tudo, até para desenvolver habilidades de comparar e analisar diferentes estilos e ter elementos para indicar o que mais agrada. Pessoalmente tenho uma predileção por narrativas de temas variados, mas experimento várias tendências literárias, inclusive confiro sugestões dos próprios alunos para acompanhar seus interesses e motivações”, acrescenta.
Na mochila, os livros e o entusiasmo
Entre as turmas dos segundos e terceiros anos do Ensino Médio, Vera é querida e vista como uma grande incentivadora. “Na verdade, só faço perceberem o quanto já amam as histórias, ao ler trechos de textos para eles, ao contar-lhes o que tem nos livros e partilhar um pouquinho desta paixão, que eu mesma carrego”, conta.
Na sala de aula, professora e alunos leem, debatem, trocam impressões e elaboram posicionamentos. Tudo integra um processo coletivo de construção de conhecimento, onde os estudantes manuseiam e participam da escolha dos livros, através de votação. O conteúdo é discutido e são elaborados trabalhos escritos. “Ao longo dos anos tentei de formas diferentes, despertar o interesse dos alunos em ler, mas muitos ingressam no Ensino Médio argumentando não gostar, porque dá sono, é chato, é difícil e pouco importante. Após inúmeras tentativas, optei por esse jeito cooperativo e tenho obtido resultados positivos”, descreve. Conforme a leitura das obras escolhidas progride, uns instigam o interesse dos outros.
Os títulos escolhidos compreendem desde os clássicos, até a literatura atual. Neste trimestre, alguns que serão trabalhados serão: “O Pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry; “O morro dos ventos uivantes”, Emily Brontë; “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury; “A redoma de vidro”, Sylvia Plath; “O conto da Aia”, Margaret Atwood; “Peter Pan”, J. M. Barrie; “A garota no trem”, Paula Hawkins; “O doador de memórias”, Lois Lowry; “O casal que mora ao lado”, Shari Lapena.
Para a professora, ver os estudantes lendo e habituando-se a esse universo é muito satisfatório. “Quando fazem isso, e com minha participação e orientação, sinto-me realizada como professora. Fortaleço minha escolha feita há tantos anos, na minha profissão que é a mais encantadora, porque trabalho com a esperança dos adolescentes, num mundo mais bonito e significativo, no qual eles se apropriam da linguagem, do conhecimento e têm seu espaço de sujeitos/leitores garantido”, conclui.
Os livros e a era digital
Em uma era onde praticamente tudo é computadorizado e os smartphones estão presentes na rotina do diária, os livros podem parecer obsoletos. Muitos optam por ferramentas e aplicativos para a leitura de e-books mas, mesmo com todos os avanços, o tradicional formato em papel não perde seu público.
Para Vera, outras ferramentas tecnológicas não ofuscam a importância do livro e podem coexistir. Os próprios estudantes comparam a experiência de ler os textos no celular, por exemplo, onde a tela é pequena, com visibilidade difícil e desconfortável e, de ler nos livros, alguns de edição ricamente trabalhada, onde há mobilidade, qualidade do material e uma leitura mais eficiente.
Histórico
Natural de Santa Cruz do Sul, Vera é moradora de Arroio do Meio há 15 anos. A carreira como professora começou na cidade natal, também passando por São Gabriel e Arvorezinha. Trabalhou como alfabetizadora, com séries finais do Ensino fundamental, e leciona há 10 anos, para as turmas de Ensino Médio. Formou-se em Letras Português/Literatura e tem Mestrado em Literatura pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).