O baixo preço do leite e a necessidade contínua de investimentos em qualificação e tecnologia, para atingir as instruções normativas 76 e 77, têm levado muitos bovinocultores de leite a ocuparem as pastagens com produção de silagem e estábulos com gado de corte.
Na microrregião, o número de produtores de leite vem caindo ano após ano, mesmo antes da normativa. A maioria dos desistentes são pessoas com mais de 50 anos que não tem sucessão ou têm outras atividades principais nas propriedades. O leite que complementava a renda, passou a ser inviável devido ao alto nível de profissionalização e baixo retorno.
Já, o gado de corte apareceu como alternativa natural dentro das rotinas adotadas nas propriedades, porém, com uma dedicação relativamente inferior. Obviamente que a renda exclusiva com esta atividade demanda de plantéis de centenas de bovinos, que na região é desenvolvida por poucos que lidam com o segmento mais profissionalmente.
Os melhores resultados são atingidos com animais ‘sobre ano’, com mais de 200kg, comprados em maior quantidade de fazendas de outras regiões. Eles são ‘acabados’ em sistemas de semiconfinamento extensivo, com uma conversão alimentar interessante, do ponto de vista de lucratividade e qualidade de carne.
A preferência dos abatedouros por determinadas raças e pelo peso inferior a 500kg, potencializa essa tendência. Entretanto, raças de leite também têm sido abatidas, rendendo menos carne e mais carcaça.
A cotação média pelo quilo do boi vivo varia entre R$ 5 e R$ 5,50, dependendo das características do animal, como idade e raça. Também existe a opção de venda pelo quilo de carne, com preço médio de R$ 10.
O produtor Márcio Hermann, de Linha 32, que tem a atividade como uma complementação da suinocultura etapa creche e ovinocultura, explica que o lucro depende muito de uma boa compra. Mesmo assim, o lucro por cabeça chega no máximo a R$ 300. O ciclo completo, desde a recria, leva em torno de seis anos, e é considerado inviável pela falta de uma previsão de liquidez financeira, potencializada pelo alto custo de vacinas e suplementação.
Também é importante contextualizar que a baixa cotação de alguns anos para cá, levou muitas fazendas de recria a ocuparem pastagens, com a produção de grãos e, no momento, faltam terneiros desmamados no mercado, o que terá como tendência uma cotação mais elevada no abate, sem significar melhores resultados.
O produtor Valter Hollmann, do bairro Dom Pedro II, por muitos anos foi uma referência na bovinocultura de leite. Hoje, migrou para atividade de gado de corte por uma série de fatores ligados à idade, saúde, proximidade da propriedade da zona urbana e outros negócios mais rentáveis. Segundo ele, o leite continua sendo viável, desde que haja prudência nos investimentos estruturais, em equipamento, tecnologia e plantel, além da visão exata de resultado.
No caso de Hollmann, além de não exigir tanto acompanhamento, a produção de gado de corte gera menos impacto ambiental e demanda poucos investimentos estruturais. “Ainda somos novos no segmento, mas já percebemos que não dá para fugir muito dos investimentos em genética e controle de sanidade. Dentro de um ano, teremos mais detalhes em torno de números, custos de produção e conversão alimentar”, explica.
A tendência terá impactos nas receitas orçamentárias de alguns municípios, especialmente quando estas propriedades só substituem o gado leiteiro pelo de corte, e não possuem outros modais produtivos fixos. O leite tem uma movimentação diária e contínua, e replica na produção de insumos e cadeia de transportes.
Em Travesseiro, a atividade caiu para a quarta colocação em importância econômica, ficando atrás da suinocultura, avicultura de corte e postura. Em 2016, 189 produtores de leite produziram 8,5 milhões de litros de leite e faturaram R$ 10,6 milhões. Em 2017, um total de 186 produtores produziram 9 milhões de litros e faturaram R$ 10,35 milhões. E em 2018, 152 produtores produziram 6,8 milhões de litros e faturaram R$ 7,8 milhões.
Em Marques de Souza, o número de produtores despencou de 295 em 2016, para 20 no fim de 2018.
Em Pouso Novo, de acordo com o técnico veterinário Márcio José da Silva, o número de produtores despencou de 194 em 2016, e passou para 152 em 2018. No mesmo período o número de cabeças de bovinos caiu de 2658 para 2459, com significativa migração para a bovinocultura de corte.