A vulnerabilidade do WhatsApp, de outras redes sociais e de plataformas de e-commerce não deveria ser novidade para ninguém. A invasão de muitos destes sistemas ocorre, inclusive, em âmbito mundial, para espionar grupos específicos. No entanto, também atinge pessoas comuns. No Vale do Taquari, a prática mais corriqueira tem sido clonar contas, inclusive de profissionais que atuam no segmento de compra e venda de bens patrimoniais.
O delegado de Polícia de Arroio do Meio, Humberto Messa Roehrig explica que, ao anunciar qualquer produto em plataformas de comércio eletrônico (OLX, Mercado Livre, Marketplace/Facebook), ou fazer mera publicação do telefone de contato em promoções virtuais de redes sociais, os números do WhatsApp das pessoas e de empresas ficam disponíveis ao público em geral na rede, tornando-se vulneráveis a crimes virtuais.
A clonagem do WhatsApp, por exemplo, ocorre através do envio de um código via SMS feito, supostamente, por uma equipe de suporte das plataformas de comércio eletrônico, que buscam uma “checagem e atualização” de banco de dados. Quando as pessoas confirmam o código, o aplicativo pode ser acessado e gerenciado por outro aparelho. O smartphone do usuário, detentor do contato original, fica bloqueado.
Numa fase preliminar, os golpistas disparam mensagens a contatos, solicitando a transferência de dinheiro, usando diferentes argumentações. Não há prejuízo patrimonial direto para a vítima da clonagem, mas existe o risco para os contatos, caso atendam ao pedido dos estelionatários.
Roehrig pede às pessoas que, antes de transferir valores, chequem a veracidade dos fatos por meio de mensagens de áudio e ligações telefônicas, lembrando que a utilização do telefone é restrita e desvinculada do funcionamento do app.
Para recuperar o número bloqueado, o delegado sugere contatar o suporte do WhatsApp. Embora os casos de clonagem estejam ganhando grande repercussão na Região, em Arroio do Meio, até o momento, somente dois casos foram registrados.
DIVULGAÇÃO DE CONTEÚDO ÍNTIMO
Segundo o delegado, a prática de extorsão, com chantagens envolvendo conteúdo íntimo ou vexatório, é mais corriqueira do que as clonagens de contas. Muitas situações envolvem homens casados. São contatados nas redes sociais por supostas jovens sedutoras, que enviam vídeos e imagens com nudez e pedem a retribuição do conteúdo. Ao enviar os arquivos, a vítima passa a ser chantageada com ameaças de vazamento de imagens e diálogos ao público e familiares. Alguns chegam a ser ameaçados com denúncia de pedofilia, quando um suposto pai surge para fazer justiça/chantagem, alegando que se tratam de menores de idade.
O caso mais recente ocorreu em Travesseiro, conforme registro na DP realizado na segunda-feira. Um homem relatou à polícia que recebeu uma mensagem no Facebook com solicitação de amizade, a qual não foi respondida. Cerca de 10 dias depois, foi acionado por uma mulher no WhatsApp.
Após um período de conversas entre os dois, a suspeita começou a pedir fotos íntimas, o que foi negado pela vítima. Conforme o homem, em determinado momento a mulher passou a enviar fotos nuas, que aparentavam ser retiradas da internet.
Acreditando se tratar de um golpe, o homem também pegou fotos da internet e mandou para a mulher. No entanto, um dia depois, acabou enviando uma foto e um vídeo íntimo seu.
Na segunda, a vítima recebeu a ligação de uma pessoa, que se identificou como irmão da suposta mulher e afirmou que iria buscar os direitos dela. Desde então, o homem bloqueou o contato e não abriu mais as mensagens recebidas.
Quando o foco dos golpes são as mulheres, segundo o delegado, elas acabam sendo envolvidas pelo lado afetivo, com promessas de romances perfeitos e conquistas. Também há pessoas que se passam por amigos, usando este vínculo para extrair informações e tirar vantagens. “Os golpes estão em constante evolução. A criatividade dos estelionatários leva as vítimas a acreditarem em presentes presos na alfândega e transferirem valores para outros países, de difícil rastreamento e recuperação”, dimensiona.
FALSOS DEPÓSITOS
Roehrig também observa práticas envolvendo falsos depósitos em negociações, feitos com envelopes vazios em terminais bancários, cheques sem fundo ou até no agendamento de Transferências Eletrônicas Diretas (TEDs), que podem ser sustadas e canceladas. Ele recomenda dar sequência nas tratativas, somente após efetivações.
Para os negócios on-line envolvendo veículos, ele sugere a consulta da placa e do código Renavam e, em regiões próximas, sugere agendar uma vistoria prévia. No caso de tratores e máquinas, recomenda consultar o número de série ou chassis. “Às vezes não há má fé, mas é preciso se precaver, pois é muito delicado reverter compras e vendas já concretizadas”, observa. Outra situação de alerta é referente à inspeção de motores em caminhões.
Segundo ele, em qualquer negócio on-line, é preciso desconfiar da autenticidade dos boletos ou de contas para depósitos, tendo em vista que a invasão de sistemas financeiros de empresas, rastreamento ou redirecionamento da navegação dos usuários para ambientes virtuais mal-intencionados é corriqueira. Dificilmente é possível reaver valores já transferidos, pois geralmente já usam dados roubados.
DESCONFIAR DE LUCROS E DESCONTOS EXCESSIVOS
Roehrig ainda detalha diferentes situações de torpeza bilateral, movida pela ganância, de quando as pessoas são tentadas a terem lucros ou descontos muito maiores do que a prática de mercado. “Apesar de muitas informações positivas e a existência de mercados operantes, como os investimentos em criptomoedas, é preciso buscar o máximo de informações possíveis para discernir fake news da realidade. O recomendado é investir no máximo 10% do patrimônio em negócios de risco, isso no mercado de ações da bolsa de valores”, analisa.
TELEMARKETING
Por fim, o delegado observa que a cautela e o sigilo na confirmação de dados, devem se estender também ao telemarketing. “Ninguém é obrigado a passar informações. O fato de as pessoas ficarem mais sigilosas vai obrigar as empresas a inovarem na criatividade”, ressalta.