Desde quarta-feira estou oficialmente aposentado, mas continuo na ativa. Dias antes, o advogado Paulo Solano ligou dizendo que tinha novidades sobre o processo que se arrasta desde agosto do ano passado. Ao entrar no escritório, o causídico levantou e me recebeu na porta:
– Parabéns! O Presidente Bolsonaro é o seu novo patrão! – disse com um largo sorriso.
Confesso que fui invadido por um misto de alegria e depressão. Alegria em ver que depois de tantos anos de contribuição finalmente terei uma recompensa mensal, embora a reforma da previdência possa interferir na correção do benefício no futuro.
A tristeza se deve à inevitável sensação de que a idade avançou, de que não sou mais guri e que o avanço tecnológico me causa alguns constrangimentos. A compensação é o convívio obrigatório com jovens que dominam estas novas técnicas, têm acesso a todo tipo de informação e muitos – é preciso admitir – têm enorme paciência com semi-idosos como eu.
O emaranhado de certidões e comprovantes que compõem o processo de aposentadoria me fez viajar no tempo. O dossiê retrata desde os primeiros passos profissionais até a atualidade. A citação de cada emprego remete a experiências que permanecem gravadas. Faz recordar personagens que estão do lado esquerdo do meu peito, graças a episódios alegres, memoráveis e alguns até tristes.
Um balanço final ostenta um resultado exitoso desta trajetória de mais de 40 anos. No somatório são poucos arrependimentos, um aprendizado constante e a sensação de ter “vestido a camiseta” com afinco a cada nova oportunidade de trabalho.
Preciso admitir: os testes vocacionais
feitos na década de 70/80 foram precisos!
Travei contato com pessoas marcantes, visitei lugares incríveis que jamais conheceria em outra profissão. E isso devo ao jornalismo, atividade fascinante. Afinal, a nossa rotina é não ter rotina. Por isso meu entusiasmo renovado a cada manhã, às 5h, ao “catar” os três jornais diários na entrada do prédio onde resido.
A sensação é sempre a mesma. Uma excitação de “foca” – termo técnico que significa “jornalista novato” – ao folhear as novidades que, cá entre nós, atualmente nem são tão novas nos veículos impressos.
Mudaram as plataformas, a internet tirou um pouco da graça da comunicação, fruto da instantaneidade em qualquer lugar do mundo. O desafio de buscar novidades ainda me move. Sou um ansioso por nascença, inquieto, nervoso, sempre em busca de conteúdos distribuído entre amigos e conhecidos.
Olhando para trás. Preciso admitir que os testes vocacionais da década de 1970/80 foram precisos. Acertaram na mosca que deveria enveredar pelos caminhos da comunicação. Fiz inúmeros destes testes e todos – sem uma exceção sequer – mostraram o mesmo resultado. O que construí – em termos materiais e até minha família – devo ao jornalismo.
Minha mulher e meu filho seguiram a mesma profissão. Laura, minha filha, se quisesse, seria uma excelente comunicadora. Escreve maravilhosamente bem e possui o dom da palavra. Por isso, depois de quatro séculos de dedicação, só tenho a agradecer a todos que me incentivaram e diariamente me estimulam a continuar.
Fazer o que se gosta… não tem preço!