A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) é a entidade de representação sindical da indústria gaúcha. Junto com o Centro das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (CIERGS), atua por políticas que fortaleçam o setor industrial nos cenários estadual, nacional e internacional, objetivando um ambiente que favoreça a competitividade, a inovação tecnológica e o desenvolvimento.
Organizada em sindicatos representativos, a FIERGS participa da interlocução com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário sempre posicionando-se na defesa do crescimento econômico, da expansão dos negócios com geração de valor, de mais renda e emprego e da elevação da qualidade de vida. Neste contexto, trabalha pela valorização do empresário industrial.
Em entrevista ao AT, o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry, fala das perspectivas para a indústria gaúcha, bem como para a economia brasileira como um todo.
AT – Qual avaliação o senhor faz sobre o atual cenário econômico e produtivo do setor industrial gaúcho? Quais são as perspectivas a curto e a médio prazo?
Gilberto Porcello Petry – A economia brasileira em 2015 e 2016 registrou a queda mais intensa na atividade em mais de um século, e a indústria foi duramente afetada por essa recessão. O perfil dessa crise foi muito diferente das outras que vivemos, tendo em vista que pegou as famílias e empresas mais endividadas, e o setor público numa grave crise financeira e de confiança. Diante desse quadro, a retomada tem acontecido de maneira muito lenta e gradual e tende a acelerar na medida em que começarmos a sinalizar que esses problemas serão resolvidos.
Para o médio prazo, temos uma visão bastante construtiva da economia brasileira e gaúcha. Depois de um longo período de estagnação, acreditamos que haverá espaço para crescimento no consumo e nos investimentos, mas antes o setor público precisa fazer lição de casa. Portanto, acreditamos na continuidade do crescimento nos próximos anos em peso e velocidade abaixo do que esperávamos.
AT – A capacidade produtiva instalada da indústria foi reduzida em função da retração econômica? Existe uma estimativa sobre a capacidade produtiva instalada que hoje está ociosa? Quais os reflexos desta ociosidade e qual é o segmento mais afetado?
Gilberto Porcello Petry – A FIERGS conduz, mensalmente, pesquisas para avaliar apenas o grau de utilização da capacidade instalada da indústria gaúcha. No RS, o grau de utilização da capacidade instalada (UCI) nos primeiros três meses de 2019 foi de 81,2%, em média, mas há setores bem abaixo disso, como Têxteis (62,4%), Vestuário e acessórios (62,4%), Bebidas (63,5%), Metalurgia (70,6%) e Máquinas e Equipamentos (71,7%).
Mas os dados têm que ser analisados com cuidado. Em épocas de crise, por exemplo, uma empresa que operava em cinco plantas, com a queda na demanda, optou pelo fechamento de três plantas e concentrou a produção em duas. Esse fenômeno faz com o resultado da utilização seja, muitas vezes, mal interpretado.
Já o indicador de UCI em relação à usual, construído com base na avaliação dos empresários gaúchos, levando em consideração a UCI comum do período, foi de 44,8 pontos em média no primeiro trimestre. O indicador, quando inferior a 50 pontos, revela que os empresários consideraram o uso da capacidade abaixo do normal para o período. Os reflexos da elevada ociosidade são o aumento dos custos e, principalmente, o adiamento de investimentos.
AT – Quais projeções o senhor faz para a economia, ainda em 2019, e a partir de 2020?
Gilberto Porcello Petry – A atividade no primeiro semestre de 2019 está muito abaixo do esperado. Nos primeiros meses do ano ainda estávamos sofrendo efeitos dos acontecimentos de 2018, tais como a incerteza eleitoral, greve dos caminhoneiros e cenário externo mais desfavorável, em especial pela grave crise pela qual passa a Argentina, um dos nossos principais parceiros comercias. Dado que o crescimento da economia, com base no consumo das famílias, segue limitado pelo elevado desemprego verificado no Brasil e o setor público não apresenta capacidade de estimular a economia pela crise nas finanças, a retomada dos investimentos privados será um vetor de crescimento importante. No entanto, enquanto estivermos lidando com a incerteza provocada pelo risco de insolvência do setor público, os investidores ficarão retraídos.
AT – Na sua opinião, qual o peso das reformas da Previdência e a Tributária para a economia e desenvolvimento social do Brasil?
Gilberto Porcello Petry – A reforma da Previdência é uma condição necessária, mas não suficiente para a volta do crescimento. Sem uma reforma robusta, que dê mais equilíbrio às finanças públicas, as coisas ficarão inviáveis. Quem analisa o quadro fiscal, sabe que as alternativas à reforma da Previdência são trágicas: aumento de juros, maior carga tributária ou maior inflação. Neste sentido, é importante perceber que os efeitos fiscais da reforma serão sentidos mais a médio e longo prazo. Por outro lado, ela tem uma dimensão importantíssima de curto prazo, que se dá sobre as expectativas dos agentes. Uma boa reforma dará aos investidores a mensagem de que o Brasil está no caminho da sustentabilidade fiscal, e isso deve impulsionar a atividade econômica.
Contudo, precisaremos mais do que a reforma da Previdência para ingressar num ciclo de crescimento sustentável. Algumas medidas, como aprofundar os programas de privatizações e concessões, iniciar um grande plano de desburocratização e simplificação da economia e, claro, a própria reforma da Previdência, irão pavimentar o caminho para o desenvolvimento de longo prazo.
A reforma Tributária entra nessa gama de reformas necessárias para aumentar a produtividade e eficiência da economia brasileira. Além de uma carga tributária elevada, que se manifesta especialmente sobre o setor industrial, a complexidade do sistema atual demanda muitas horas de trabalho das empresas para o cumprimento de suas obrigações. Isso significa aumento de custos, menor produtividade e competitividade. Essa agenda também é extremamente importante.
AT – Há poucos dias foi muito comentada a fala do ministro da Economia de que haverá cortes no Sistema S. O senhor acredita que estes cortes possam ocorrer? Quais seriam os impactos?
Gilberto Porcello Petry – Não está nada definido sobre esta questão e qualquer manifestação seria precipitada neste momento, já que a decisão deve passar pelo Parlamento.
AT – Qual a importância do Sistema S para a formação de mão de obra no RS?
Gilberto Porcello Petry – No Rio Grande do Sul, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RS) atua em duas grandes vertentes: Educação Profissional e Prestação de Serviços de Tecnologia e Inovação. Na educação, atua em diversas modalidades, desde cursos de Formação Inicial e Continuada, Cursos Técnicos, de Graduação Tecnológica e de Pós- Graduação, formando cerca de 90 mil pessoas por ano. Na tecnologia e inovação, atua em prestação de serviços de metrologia, consultoria e projetos de inovação. Em 2018, foram mais de 10 mil atendimentos e quase três mil clientes. A estrutura do Senai-RS conta com dois Institutos Senai de Inovação, seis Institutos Senai de Tecnologia, 52 Centros de Formação Profissional, 49 Postos de Atendimentos e 19 Unidades Móveis autotransportáveis.
Já o Serviço Social da Indústria (Sesi-RS) atua em 416 municípios no Estado. Possui Conselhos Consultivos e Conselho Regional que juntamente com as diretorias analisam e aprovam os recursos a serem investidos em saúde do trabalhador, educação e inovação. Possui quatro escolas de ensino médio (em Pelotas, Gravataí, Montenegro e Sapucaia do Sul) e uma unidade sendo construída em São Leopoldo. Os números de 2018 registram 11,3 milhões de atendimentos e 8,2 mil indústrias atingidas. Foram realizadas 89 mil matrículas, das quais 60 mil gratuitas. Cerca de 181 mil consultas odontológicas foram realizadas e 260,8 mil trabalhadores atendidos em programas de saúde. A campanha de vacinação contra a gripe de 2018 registrou 150.446 pessoas vacinadas.