Uma vez por semana, a Escola Estadual de Ensino Médio Guararapes, de Arroio do Meio, para ao som do sinal. Alunos e professores tiram das bolsas e mochilas um livro, e começa a hora da leitura. O projeto, que existe desde 2015, propõe um período exclusivo, por semana, apenas para ler. Vale trazer o livro de casa, retirar na biblioteca, pegar emprestado com algum colega ou familiar. Só não vale passar o período sem participar.
Para pôr em prática o projeto, a escola desenvolveu um cronograma mensal, com dias da semana alternados. As turmas da manhã e da tarde têm a hora da leitura fixa sempre nos primeiros períodos. Para as da noite, ocorre no terceiro.
Segundo a vice-diretora do turno da tarde, Flaudiane Dela Justina, o projeto tem uma grande aceitação entre a comunidade escolar. “No início houve dificuldade de terem sempre um livro consigo, mas hoje eles se policiam muito. Também temos as caixas prontas, com diversos títulos, que o professor pode levar para a sala”, comenta.
Apesar do foco da proposta serem os livros, em alguns casos, conforme as atividades e os professores, os alunos também leem revistas e histórias em quadrinho. Alguns são liberados para ler as obras em PDF, pelo celular. Mas, segundo a vice, é uma porcentagem mínima de alunos.
Um hábito para levar para a vida
Para as estudantes, Cândida Scheid, 14 anos e, Bruna e Bianca Gerhardt, 12 anos, o projeto de leitura da Guararapes foi o começo de um hábito que continua em casa e que, mesmo depois que se formarem, estará presente em suas vidas. “A leitura abre as portas do conhecimento, a gente fica com um vocabulário bem mais amplo”, diz Cândida, que está no 9º ano. Ela lembra que, logo que ingressou na escola e conheceu o projeto, não costumava retirar livros na biblioteca para ler. Com o passar do tempo, gostou tanto que chega a ler dois livros diferentes ao mesmo tempo.
As irmãs Bruna e Bianca, do 7º ano, também se surpreenderam ao conhecer a iniciativa. “Eu gostei muito e é um momento que temos só para ler. Ao todo já li uns sete livros”, lembra Bruna. “Aprendemos a gostar mais da leitura e até a conversar melhor”, completa Bianca. Para as três estudantes, é muito interessante comparar os livros à suas adaptações para o cinema e identificar o que foi mudado na história. Entre as obras que elas mais gostaram estão: É tarde para saber, de Josué Guimarães; O menino do pijama listrado, de John Boyne; Cartas a um cão, de Tatiana Busto Garcia; A culpa é das estrelas, de John Green.
Diferença vista na sala de aula
Ter a leitura como hábito contribui muito para o desenvolvimento dos alunos em sala de aula e essa diferença é perceptível para os professores. Deise Beckel Hendges leciona Ciências e Biologia na Guararapes e sempre carrega vários livros consigo. Ela percebe que os alunos estão mais interessados em conhecer novos títulos e coleções e conta que, frequentemente, troca várias dicas de leitura com eles. “Eu sou uma defensora da leitura. Sempre digo que meio caminho andado para acertar uma questão, é saber interpretá-la. Quanto mais eles leem, mais eles desenvolvem essa interpretação. Esse incentivo (projeto) só melhora isto”, declara.
A professora salienta que a biblioteca da escola é muito rica em variedade de títulos. “Não são apenas livros didáticos ou as leituras obrigatórias. Eles também leem o que gostam. É fundamental esta liberdade que eles têm de ir à biblioteca”, diz, salientando que toda esta experiência literária reflete no falar e no escrever bem, enriquecendo o vocabulário.