Hoje completo 59 anos, dos quais, mais de 40 da mesma profissão. Em resumo: praticamente já nasci jornalista. Isto confirma – como já escrevi neste espaço – o resultado de todos os exames vocacionais feitos quando era jovem.
Esses testes envolviam o preenchimento de intermináveis formulários, com múltiplas questões, de diversas disciplinas. Havia perguntas de escolha única e algumas permitiam mais de uma opção. Especialistas empregavam fórmulas complicadas para mortais comuns, para chegar à conclusão sobre os pendores de quem respondia à bateria de perguntas. “Comunicação” era o resultado ao final de cada um dos seis testes que realizei. Não tinha como escapar.
Às vésperas de tornar-me um sexagenário, não tenho do que reclamar. A vida tem sido muito boa em todos os quesitos. No trabalho, na vida familiar, com os amigos e no saldo de experiências acumuladas que me obriga, todos os dias, ao equilíbrio entre o entusiasmo juvenil e o pessimismo idoso.
Confesso que este desafio não é uma tarefa fácil. Com frequência me pego reclamando de tudo e todos, uma crítica de amigos e familiares. Noutras ocasiões, me entrego a devaneios que inclui elaborar planos para os quais jamais terei tempo, dinheiro ou energia para realizar. Paciência, aliás, um exercício cada vez mais frequente.
Chego aos 59 anos com ânimo de guri,
esperança de adolescente e sapiência de idoso
Esta semana fui engraxar meus sapatos na Avenida Borges de Medeiros, no centro de Porto Alegre. É um tradicional ponto onde os “profissionais da graxa” estão alinhados em cadeiras onde jazem jornais do dia para passar o tempo. Sou cliente do Luiz, conhecido na região por Coco, um negro estrábico, de alto astral, que joga futebol todos os sábados no campinho do Parque da Redenção.
Ele contou que, em média, fatura R$ 2 mil por mês.
– Quando chove ganho mais porque corro até a galeria aqui perto e pego um fardo de guarda-chuvas com um chinês. O lucro é maior que o da graxa – garantiu.
Enquanto ele dava o brilho final pensei na minha vida boa, com uma família compreensiva que perdoa meus inúmeros defeitos e se mantém unida. Tenho um ótimo emprego e usufruo de um ótimo ambiente e de colegas parceiros. A saúde é boa diante de tantos exageros e sedentarismo, mas a nutricionista, Fabrícia Duarte, trabalha com afinco para alterar meus hábitos pouco saudáveis.
Cultivo alguns arrependimentos, mas é momento de gastar energia para viver de maneira plena com a experiência acumulada, reduzir erros, dar dicas aos mais jovens, mostrar atalhos e potencializar as poucas habilidades que desenvolvi.
Aos 59 anos, agradeço a todos que colaboraram para que pudesse chegar a esta quadra da vida com o ânimo de guri, a esperança de adolescente e alguma sapiência de idoso.
Um pouco de cada uma destas características resulta numa mistura show de bola!