“Sou do tempo” em que usar esta expressão denunciava a idade. E isso continua a acontecer. Também sou da época em que tínhamos certezas. Ok, não eram muitas, mas eram consagradas pela experiência. Aos 59 anos, pergunto todos os dias: o que hoje é óbvio de forma cristalina?
Tudo é motivo de polêmica. O advento das redes sociais, que levaram à conectividade permanente – 24 horas no smartphone – deram voz a todo tipo de opinião. Muitos acusam os fenômenos da internet de terem proliferado a legião de idiotas. Discordo. A rede mundial de computadores viabilizou que os mais absurdos pontos de vista tenham visibilidade. E o pior: sempre acompanhados de retruques da oposição.
Da educação dos filhos ao tempero que não pode agredir a natureza, tudo “vira resenha”, um infindável bate-boca que quase sempre descamba para a troca de ofensas que não poupam nem a sagrada mãe alheia. As trocas de argumentos, fundamentados e civilizados, são exceções que confirmam a regra.
Dia destes recorri ao YouTube para apresentar alguns personagens de Chico Anysio e Jô Soares para colegas de trabalho bem mais jovens, num intervalo do almoço. Depois do terceiro vídeo, um deles me advertiu:
– Masbá, Giba! Hoje nenhum destes programas iria ao ar. São todos politicamente incorretos, preconceituosos e renderiam processos, boicotes e incêndios às emissoras de tevê que os exibissem.
De vez em quando sinto saudades dos meus tempos
de adolescente, que saiu da colônia para a Capital
Historicamente a mudança de conceitos corre paralela à evolução. Esta deveria ser a premissa básica do mundo. Mas basta analisar, sem paixões, para constatar que, em muitos aspectos, tivemos retrocessos que comprometeram avanços seculares.
A “patrulha” – ideológica, esportiva, política e religiosa – é o combustível da chama da discussão que permeia as redes sociais. É onipresente, não dorme, não viaja ou relaxa. Sempre apostos para investigar, julgar, punir e aplicar as sanções sem piedade, como se perfeita fosse.
Por estas e outras, que a vida anda chata, repetitiva, eivada de mesmice. Ousar é perigoso. A “corneta” toca forte ao mínimo resvalo ou conduta fora dos padrões. A criatividade está amordaçada, presa à uma bola de aço fixada à perna. Poucos resistem à tentação do comodismo. Melhor fazer o feijão-com-arroz para não ser defenestrado em praça pública.
A rebeldia, outrora estigmatizada, é a única esperança para romper com a mesmice, conquistar novidades, avanços, desvendar diferentes soluções. As amarras são muitas, mas incapazes de conter rasgos de criatividade temperada com ousadia.
Vez por outra, sinto saudades dos meus 17 anos, quando saí de Arroio do Meio para encarar um monstro chamado Porto Alegre, que tanto fascínio e medo incutiram no meu coração.