Tenho sido cuidadoso ao escrever sobre a chegada aos 60 anos. Muitos leitores demonstram preocupação com o que consideram depressão da minha parte. São apenas reflexões da experiência acumulada, mas não me atrevo a chamar de sabedoria. “O bom de ficar velho é acumular conhecimento. O ruim é que muitas vezes a gente não lembra”, reza um bem humorado dito.
Um vez escrevi sobre o hábito de ler obituários onde a regra é lembrar das qualidades do finado, a trajetória e o legado. Outra vez refleti sobre o que meus filhos diriam do pai quando “partisse desta para uma melhor”. Noutra, dei pitacos sobre experiências desagradáveis acumuladas.
A vida é uma construção cuja conclusão é incerta. Cada dia é um tijolo, porque descobrimos novidades, conhecemos pessoas que divertem e inspiram. Os percalços são como projetos de decoração que jamais conseguimos viabilizar. Ou falta dinheiro para um bom arquiteto de interiores ou para comprar os objetos necessários.
Encontro muitos amigos abatidos pelos reveses. São desencontros familiares e profissionais ou desilusões afetivas que remetem ao desalento, à depressão. Não existe fórmula pronta de sobrevivência. Resiliência é uma adaptação permanente às mudanças, que soa como modelo que remete à teimosia de “não se entregar”.
Conformismo é igual a remédio e veneno:
depende da dose para definir cura e morte
As “terapias informais” forjadas no cotidiano se baseiam na educação recebida, nos ambientes de convívio e das pessoas próximas. Os filhos funcionam como geradores do ânimo para seguir adiante. Também são fonte eterna de preocupação, não importa a idade. Com eles, compartilho alegrias e temores. Despido de temores eles simplificam. Queria estar longe do frio. Na verdade, gostaria de pipocar pelas praias nordestinas com muita carne de sol e cerveja gelada. Mas, na realidade, a muito custo, recentemente passei seis dias em Brasília onde o clima é dócil, em torno de 16°C ao amanhecer e 24°C à tarde. Chuva somente em setembro.
Enquanto os boletos forem companheiros onipresentes, o sonho nordestino permanecerá arquivado. No máximo, terei escapadas ao Rio de Janeiro para rever os queridos amigos Vicente Petry e Carolina Wist, além da filha Bibiana e do neto queridão, o Thiago. Coisas da vida.
O conformismo é igual a remédio e veneno: depende da dose para definir entre cura e morte. A ousadia ensina, estimula, encoraja e conquista avanços. O bom senso, no entanto, deve andar de mãos dadas com a cautela.