O ovinocultor Bruno Denis Bianchini, 30 anos, morador de Pouso Novo, está atuando com a produção de leite de ovelhas há cerca de três anos. Ele é um dos 30 brasileiros que atuam no segmento e está investindo para evoluir, e colocar sua propriedade, que é bem próxima da BR-386, na rota dos apreciadores de iguarias que podem ser beneficiadas com esta matéria prima.
Formado em Zootecnia pela Unipampa em Dom Pedrito, aprofundou seu conhecimento sobre ovinocultura participando do Núcleo de Pesquisa em pequenos Ruminantes (NUPPER- Unipampa) e da Associação de Criadores de Ovinos de Dom Pedrito, na fronteira com o Uruguai.
Depois de graduado, ficou um tempo estudando o mercado que, segundo ele, é promissor, sendo que a América Latina concentra apenas 0,4% da atividade, e muito consolidado na Espanha, Itália, França e Portugal, principalmente na produção de queijos maturados especiais como o Roquerfort e outros. Eis que surgiu a oportunidade da compra de um rebanho de borregas da raça Lacaune, de um criador, já inserido no segmento. A raça é vigorosa, possui carcaça alongada, pouca gordura e sua carne também é bastante aceita. “Inicialmente, minha intenção era fazer cruzamentos terminais com foco para produzir somente carne”, explica.
Embora a atividade seja uma das mais antigas do mundo, no Brasil é bastante recente. Começou em meados da década de 1990, com as importações de sêmen e embriões por produtores de Bento Gonçalves e Viamão. Segundo ele, o leite e derivados têm 60% mais cálcio do que o bovino, e o dobro de sólidos, o que permite a fabricação de um quilo de queijo para cada cinco litros de leite. A lactose tem glóbulos menores, que muitas vezes não são perceptíveis aos intolerantes.
Ele revela que o início foi desafiador, devido ao manejo delicado e falta de conhecimento técnico disponível. Em muitos casos, as informações da literatura não tiveram aproveitamento prático, precisando desenvolver seus próprios métodos. A troca de informações com outros produtores, apesar de restrita, foi essencial. As descobertas e novidades são constantes.
Em sua propriedade adaptou um aviário a um compost barn, que conta com 220 animais, sendo 160 matrizes, além de borregas, cordeiras e carneiros que são cuidados por cães pastores maremanos. Para produzir leite o ano inteiro, Bruno dividiu os grupos fazendo intervenções no ciclo natural. Pois como são poliéstricas estacionais, são influenciadas pelo fotoperíodo, através do hormônio da melatonina para ciclar naturalmente, e só produziriam leite entre abril e agosto.
O período de lactação leva em torno de cinco meses. Como ocorrem mais gestações num ano, em média uma ovelha consegue produzir leite até cinco anos. A média diária por animal é de 1,5 a 1,8 litros por dia. A cotação é de R$ 5,50 para quem vende para as indústrias, podendo chegar a R$ 7 em outras regiões.
A base da alimentação é composta por silagem, pré-secados, rações concentradas e pastejos de períodos curtos (Pastejo Horário). A dieta varia de acordo com as exigências nutricionais de cada fase. O principal problema é a verminose provocada pela retroinfestação. Por isto, a limpeza do ambiente é fundamental. Pelo mesmo motivo os pastejos ocorrem em menos de duas horas, quando as forragens estão secas, preferencialmente com rodízio de piquetes. Isso porque, quando o clima está úmido, os vermes se concentram no topo das folhas e acabem sendo ingeridos pelo animal durante o pastejo. “Apenas de 3 a 5% da verminose está no animal, 95% esta no ambiente”, comenta ele.
No Brasil, a média de ovelhas por hectare varia de cinco a 50. Os fatores decisivos para aumentar ou diminuir a concentração são a qualidade e a palatabilidade da pastagem e forragens, que dependem do clima, de análises de solo, correções e manejos.
A ordenha é bastante semelhante a de vacas leiteiras e o trabalho preventivo é importante para minimizar problemas como a mastite. Como o ubre é mais sensível, as teteiras têm acabamento em silicone e fixação à vácuo. O tempo de ordenha leva de três a quatro minutos.
A reunião de dados em torno da produtividade do rebanho, gestações, lactações, tipicidade e conversão de peso dos recém nascidos, são bastante qualitativos, buscando o melhoramento genético. O desmame ocorre quando as cordeiras atingem 14kg, entre o 35º e 45º dia de vida. O método da mamada controlada, permite apenas com que os filhotes fiquem com as mães após as ordenhas e é intercalado com uma alimentação direcionada a preparar o rúmen para a fase adolescente.
O instinto torna a identificação entre mães e filhotes instantânea. Quando não há aceitação, uma alternativa é o método de enxerto de cria, quando líquido da placenta e derramado sobre o filhote. Os cordeiros machos geralmente são comercializados, assim como as fêmeas que ficam muito abaixo da média do plantel, que ainda podem ser usadas para recria em outras propriedades. A mortalidade em seu plantel é de 6%, sendo que o ideal seria de 3%, o que é mais fácil de obter na pecuária de corte.
Segundo Bianchini, a inseminação artificial com sêmen congelado é inviável, pois o sistema de laparoscopia (procedimento feito diretamente no útero) é caro e a taxa de prenhes fica em torno de 40 a 60%, o que torna mais vantajoso usar um carneiro de boa procedência. A fisiologia natural, além de promover bem-estar animal, pode ser complementada por estímulos para promover a sincronização dos cios. O recomendado é a troca de carneiro a cada dois anos. O valor de um bom carneiro varia entre R$ 3 a 4 mil.
Bruno observa que a carne ovina é bastante saborosa e rica em nutrientes como o betacaroteno. Além disto, está bastante em voga na alta gastronomia. “Às vezes a primeira experiência de consumo não é boa, e acaba desestimulando as pessoas de consumirem carne ovina novamente. Esses fatores são influenciados principalmente pela idade do animal abatido, geralmente animais velhos, pelo sistema de criação submetido e até mesmo pela forma do preparo da carne”, observa.
Em sua propriedade estão investindo na construção da sala de ordenha e em melhorias nas instalações. A intenção é, no futuro, produzir queijos maturados especiais (de 90 a 500 dias), como o Pecorino, e receitas próprias, com base em pesquisa de mercado, e iogurte grego, além de obter certificação no Susaf-RS e SIF, e apostar num projeto de agroturismo intitulado Vale das Nuvens. “Estudos comprovam que quando pessoas veem ovelhas pastando tranquilamente sentem a mesma endorfina ao ver o mar, por exemplo”, completa.
Bruno conta com o apoio de sua tia, Ana Alice Abegg, que é responsável pela ordenha e de seu tio Arino, que presta suporte.
Também conta com algumas parcerias importantes para o estabelecimento e desenvolvimento da empresa rural: UFRGS, Emater e Prefeitura de Pouso Novo, Banco Sicredi, Agropecuária e Materiais de Construção Graebin.