Ultimamente tenho lido muito sobre a China.
Você aí vai pensar que o objetivo é preparar uma viagem, mas se engana. Trata-se de pura e simples curiosidade. A faísca disparou, quando me chegaram às mãos alguns livros de Pearl S. Buck (1892 – 1973). Há muitos anos tinha lido obras da autora e agora a admiração reacendeu.
Pearl S. Buck tem uma história de vida interessante. Passou quase quarenta anos na China. Primeiro, como filha de missionários americanos; depois, como professora. A infância e a juventude no grande país do oriente lhe ensinaram a língua, os costumes e a forma tradicional de viver. O resultado aparece no conhecimento profundo, que lhe permitiu escrever sobre o país com conhecimento de causa.
Pearl é autora de dezenas de livros de ficção, biografias e ensaios. Vários dos seus livros viraram filmes de sucesso. É o caso de “A boa terra”. Este livro, aliás, foi publicado no Brasil pela editora Globo de Porto Alegre, nos seus tempos áureos, quando tinha Érico Veríssimo como editor.
Em 1938, Pearl S. Buck recebeu o prêmio Nobel da Literatura.
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“A boa terra” é um livro extraordinário. Conta a vida de um camponês pobre de nome Wang Lung, começando no dia do seu casamento com O-lan, uma menina que fora vendida como escrava para os ricos do lugar. Segundo o costume, vender as meninas era forma de ganhar um dinheirinho e ainda se livrar do compromisso de arranjar um dote para a moça levar junto quando casasse.
O-lan se revela trabalhadeira e inteligente. Com a sua colaboração, Wang Lung prospera. Ao acompanharmos o casal, podemos ver como é pesado o fardo das mulheres na antiga China. O-lan trabalha sem descanso. Sozinha ela dá à luz a todos os filhos e nem no dia do parto deixa de preparar a refeição do marido. Quando a família conhece a prosperidade, Wang Lung traz para casa uma segunda esposa. Esta vai servir para o deleite do chefe da casa.
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Nos livros em que mostra outros aspectos da cultura chinesa, Pearl S. Buck revela traços que nos deixam positivamente admirados. Por exemplo, o carinho dedicado às crianças, o respeito que os velhos merecem, o apreço pelas pessoas estudiosas, o senso de humor e a flexibilidade.
Quando descreve a forma tradicional de distribuir a justiça, instiga a pensar. Em vez de criar aparatos judiciais, é a comunidade que decide o que fazer quando um crime acontece. A regra básica é que a punição seja proporcional à riqueza e ao nível cultural do culpado. Assim, por exemplo, a multa não tem um valor pré-fixado, porque para um rico pode representar pouco e para um pobre, muitíssimo. O importante é a comunidade se sentir confortável com a punição. A finalidade da punição não é castigar, é restabelecer a harmonia no ambiente que foi abalada pelo crime.
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Aí está, pois, uma recomendação de leitura para os dias de folga que se avizinham.