Hoje escrevo sobre sequestradores de almas, parasitas humanos, vampiros emocionais, que sugam a vitalidade das vítimas e as envolvem numa teia ardilosa, muito difícil de sair. Parece uma história de ficção, de terror? Pode até ser, mas também é a história de muitas pessoas que se envolvem em relacionamentos abusivos.
Pessoas que abrem mão do que lhes é caro, seus valores, suas prioridades para se “encaixar” na vida de outra. Abrem mão de sonhos, já nem sabem o que gostam, o que as diverte ou relaxa, o que querem fazer nas férias ou no final de semana e vivem à sombra dos desejos do outro. Pessoas que, mesmo feridas profundamente pelo companheiro ou companheira, não conseguem mudar.
Relacionamentos abusivos são mais frequentes do que imaginamos. Envolvem violência física, sexual ou financeira, mas não necessariamente. Podem ser uma armadilha psicológica, que inicia de uma forma muito sutil. Começa com cuidado, proteção, mas vai se transformando em relação de controle, dominação e ameaças. Relacionamentos abusivos podem ser confundidos com amor, carinho e preocupação. Mas vão aos poucos destruindo a autoestima da vítima.
Constrói-se uma relação tóxica, mas muitas vezes isso é difícil de identificar. A vítima vive confusa, se sente culpada e tem dificuldade em sair da relação. Isso não ocorre por mera ignorância ou gosto de apanhar, como é indevidamente visto pela sociedade. Mas é o resultado de um histórico de agressões do dia a dia em que o abusador culpa a companheira por “perder a paciência”, e a vítima naturaliza a violência e aceita a culpa. Ambos ficam presos em um looping difícil de sair.
Esse looping, chamado ciclo de violência, é dividido em três fases. Na primeira ocorre um aumento de tensão, o comportamento fica instável. A vítima passa a ter medo e “pisa em ovos”. Na segunda fase, ocorre a explosão, o descontrole, a agressão em si, brigas, xingamentos, ameaças. Já na terceira, a de reconciliação, acontece o arrependimento, o pedido de desculpas e a promessa de que vai melhorar. É a fase de calmaria, de Lua de Mel. O incidente começa a ser “esquecido” e a vítima chega a pensar que exagerou e que vai ficar tudo bem. Mas não vai. O ciclo sempre se repete.
Viver um relacionamento abusivo é viver com um predador, que engana sua vítima, confunde-a e, no final, a leva a duvidar de si mesma, de suas convicções porque num dia ele é mau, dominador, agressivo física ou emocionalmente, mas no outro dia – às vezes no mesmo dia – ele resolve ser “a pessoa mais legal do mundo”, para voltar a ser mau pouco tempo depois.
E, com certeza, não é fácil perceber que se está vivendo um relacionamento abusivo, e mesmo já ciente de estar vivendo um relacionamento adoecedor, não é fácil sair dele. Mas se de alguma forma você se identificou com o texto, urge procurar ajuda profissional. Se parece que há algo errado em sua vida, que tudo perdeu o sentido, se você se sente paralisada (o), sem energia ou como se estivesse sendo monitorada (o), ou tem uma constante sensação de solidão, procure um profissional. É possível reaver a sua vida. Ninguém precisa viver à sombra dos caprichos e desejos do outro.
Grasiela
Bolgenhagen Piassini
Psicóloga


