Viajar é um meio que leva o ser humano a renovar-se interiormente. Foi com esse propósito que, por 17 dias, percorri os países Argentina, Chile, Bolívia e Peru. Vivenciei momentos únicos e inesquecíveis. A paz e a tranquilidade, por vezes, se rompiam em reflexões mediante a diversidade cultural, aos mistérios de um povo que deixou suas marcas registradas nos complexos construídos entre labirintos de rochas, templos sagrados, átrios que perduram pelos séculos. A disposição dos prédios, a excelência do trabalho e o grande número de terraços para agricultura são impressionantes, destacando a grande capacidade daquela sociedade. No meio das montanhas, os templos, casas e cemitérios estão distribuídos de maneira organizada, abrindo pequenas ruas e aproveitando o espaço com escadarias. Segundo a história Inca, tudo foi planejado para a passagem do deus sol.
Não se encontram registros precisos de sua construção, assim a curiosidade acompanhada de emoção leva a questionamentos: como o homem conseguia transportar e colocar pedras com mais de 30 toneladas em montanhas íngremes com aproximadamente 5 mil metros de altitude? A simetria das paredes, muros e construções trazem reflexões; o que movia tal povo? Era fé? Eram seres humanos com inteligência e dedicação imensuráveis? Seriam Deuses? Seriam sábios? Seriam escravos? Não almejo respostas, mas sim reflexões.
Os séculos transcorrem e a conexão entre o homem e a mãe natureza perpetuam. Elevam-se orações, preces, desejos, ao deus sol e a deusa lua. A valorização à dualidade se faz presente na mente e costumes de quem ali vive, mantendo o legado “o que damos à natureza é o que recebemos desta”, ou seja, a reciprocidade entre homem e natureza possibilita o equilíbrio do universo.
As mudanças climáticas davam o ar da graça a cada dia, com sol, chuva gelada, vento que causava infinitos redemoinhos ao andar pelo deserto, frio intenso de 7º negativos em uma altitude de 4.170 metros acima do nível do mar, enxurrada com deslizamento de pedras e terra. A natureza se fazendo presente e sendo companhia viva a todo momento.
Passando pelo Vale Sagrado até chegar em Machu Picchu, no Peru, não contive as lágrimas ao verificar o quão aquele povo tem conexão e reciprocidade com a natureza. Entre intermináveis montanhas áridas e secas pela falta de chuva, a beleza estonteante das eternas geleiras apresenta vales cobertos de vegetação, animais como llama, guanaco, alpaca, vicuña, flamingos, ovelhas, bois, burros selvagens, e o homem que ali vive de modo simplório, cultivando simplesmente para sua subsistência, em casas construídas com barro.
A energia se faz sentir e a mente faz pensar: o que estamos fazendo com nossa mãe natureza? Estamos passivamente e, a conta-gotas, provocando nossa própria morte com utilização de venenos, produção desenfreada de lixo? Existe reciprocidade entre o homem, o universo e a natureza? O homem moderno, capitalista, em grande parte está se tornando egocêntrico, acreditando que, por si só, se sente autossuficiente? Emoções, aventura, adrenalina, sorrisos, dúvidas, cansaço, falta de ar, tudo, exatamente tudo valeu muito a pena vivenciar. Sinto imensa gratidão a Deus, pelo que vi, senti e aprendi nesta e em muitas viagens que pretendo fazer, se esse mesmo Deus me permitir.
Enfim, viajar é permitir-se uma grande abertura à mente: saindo do círculo de preconceitos do próprio país, revendo conceitos, posicionamentos pessoais e também retomando valores que acharmos de absoluta importância.







