Cronista é um escritor que, com o passar do tempo, se transforma em analista, que compara comportamentos e costumes. Refleti sobre isso ao constatar o desafio enfrentado pelos amigos com filhos pequenos em tempos de coronavírus.
É preciso criatividade e energia para preencher o dia que, para os pais, tem muito mais que 24 horas. Ao despertar, não importa a hora, a gurizada está energizada com aquelas pilhas alcalinas. Iguais ao comercial de tevê, onde um coelhinho batia insistentemente num tambor. Ao longo das horas deve ser difícil manter o humor. Além de entreter os filhotes, é preciso cuidar da casa, trabalhar no home office e prover a despensa de comida, material de higiene e de limpeza.
Com frequência, meus filhos já adultos perguntam como vivíamos sem internet, celular, Netflix e outros avanços tecnológicos. Conto a eles sobre as nossas brincadeiras, passatempos que reuniam a família e a simplicidade, sem dependência tecnológica e com mais contato pessoal.
A piazada de hoje terá muitas histórias para contar. As façanhas do confinamento – apelidado de “distanciamento social” – renderão boas estórias e reminiscências. Os jovens contarão a seus filhos que comeram doces, sorvetes e salgadinhos (aqueles malcheirosos), além de refrigerante em profusão e chocolate sem precisar se esconder. Contarão orgulhosos que dormiam já de madrugada e acordavam muito depois do meio-dia.
Recordações são fundamentais porque mantêm vivas pessoas importantes da nossa vida
Também irão relatar, no entanto, detalhes dos intermináveis dias sem compartilhar os jogos de videogame junto dos amigos. Também não jogaram futebol, nem foram ao shopping comer McDonald’s ou rir no intervalo do colégio.
Os filhos da gurizada de hoje, certamente, ficarão céticos, como meus filhos ficam ao ouvir dos tempos de racionamento de energia elétrica, de andar quilômetros para ir à escola ou chamar os pais e professores de “senhor e senhora”.
Uma geração inteira terá a pandemia da Covid-19 na memória de transformações impostas ao dia a dia. A rotina virou de cabeça para baixo. Todos foram obrigados a improvisar, rezar para manter empregos e driblar a insônia sobre as consequências desta crise.
As recordações são fundamentais porque mantêm vivas as pessoas importantes de nossa vida. Verbalizar as aventuras citando o nome de seus protagonistas fortalece a importância destes parceiros de conquistas, tristezas, frustrações e recomeços. Passada a crise, cada nome e episódio será importante. E inesquecível!

