A física não é simplesmente uma ciência cheia de fórmulas para solucionar problemas. Ela está mais presente no cotidiano do que as pessoas conseguem perceber. Ao sair de casa para estudar ou trabalhar ou ao simplesmente olhar para o céu, ela se manifesta. A professora Cristine Inês Pilger Brauwers mostra que a física é fascinante e nos traz para uma realidade cheia de recursos e avanços que, sem ela, não seriam possíveis. Confira:
AT– A física está presente no nosso cotidiano, a questão é que muitas vezes não temos conhecimento. Podes explicar um pouco de como ela faz parte de nossa vida?
Cristine Brauwers– A Física antes de ser chamada assim, era chamada de Filosofia da Natureza, é a parte da filosofia que trata do conhecimento das primeiras causas e dos princípios do mundo material, ou seja, compreender os fenômenos da natureza. Mais tarde, vêm diversos físicos como Galileu Galilei e inserem o conhecimento científico por meio de números e fórmulas para além de explicar o funcionamento, também mostrar e calcular os resultados exatos.
Quando se estuda a física, principalmente na escola, a ideia que normalmente se tem é que nem tudo o que é aprendido realmente tem alguma utilidade prática, ou que tudo são apenas números aplicados nas fórmulas. No entanto, muito do que é visto como idealização de modelos, tem grande aplicação no dia a dia, desde as atividades físicas que realizamos, com cálculos de rendimento, força, aceleração, energia, até os equipamentos sofisticados que carregamos, como os telefones celulares e relógios, no desenvolvimento e programação de aplicativos, uso e criação de ondas eletromagnéticas e sonoras. Enfim, é difícil imaginar algo que não exista nada físico na explicação ou cálculo de criação e aplicação.
AT– Especificamente falando de saúde, onde identificamos a atuação da física em prol dos tratamentos e da cura?
Cristine Brauwers– Para se ter uma ideia, a física tem uma aplicação enorme na área da saúde. Por exemplo, Leonardo da Vinci, além de inventor foi um grande físico na área da mecânica, sendo assim pode ser considerado um dos pioneiros na construção de próteses e robôs, devido aos seus estudos, no século XVI, acerca da biomecânica e das locomoções humanas, do movimento do coração e do fluxo sanguíneo no sistema cardiovascular. E ainda os conhecimentos da óptica possibilitaram a invenção do microscópio, que por sua vez possibilitou aos médicos uma melhor compreensão sobre anatomia e histologia, bem como a descoberta e o estudo de micro-organismos no século XVII e sem dúvida a criação de lentes de óculos e equipamentos.
E falar de saúde e física e não citar Marie Curie é impossível, ela que foi a primeira mulher ganhar o Prêmio Nobel de Química e Física pelas observações e interpretações das emissões de partículas provenientes de materiais radioativos (radioatividade) ou como conhecemos popularmente, o raio X, a partir dela é possível diversos exames e diagnósticos muito mais elaborados. Enfim, a física está no processo de compreensão e diagnóstico de qualquer doença, ou seja, mais uma vez na compreensão da natureza humana.
AT– Onde podemos identificar (e de que forma) o uso da Física nos atendimentos e tratamentos desta pandemia que enfrentamos?
Cristine Brauwers– Na história da humanidade, as chamadas pandemias sempre foram desastrosas pois matam mais que as guerras em todo o planeta. A humanidade viveu várias pandemias ao longo de sua existência, isto não é novo. Para uma pessoa comum, às vezes é difícil avaliar o grande valor que a ciência (física, química, biologia) faz no dia a dia de todos, e principalmente o grande benefício que se tem nestes momentos. No entanto, a física, tem tido um papel de destaque porque ao longo da história, ela evolui de mera geradora de conhecimento, para protagonista das soluções, ela vem contribuindo com conceitos e técnicas que fazem uma grande diferença, em momentos como este que estamos vivendo. A cada ano, as técnicas capazes de detectar, interferir, prever e amenizar efeitos de pandemias progridem para o melhor. A física tem atuado desde a observação ao micromundo do vírus a elaboração e aperfeiçoamento de equipamentos médicos.
Um grande exemplo atual são os respiradores aprimorados por seu maior rendimento, ou seja, tempos atrás, as bombas de oxigênio empurravam o ar para dentro do paciente e também forneciam a ele não apenas ar, mas até 100% de oxigênio, ou seja, muito mais oxigênio do que respiramos normalmente. Já agora, com estes aprimoramentos mecânicos e tecnológicos desenvolvidos nestas máquinas, é possível regular a intensidade necessária conforme o caso de cada paciente.