Nos corredores dos supermercados ou em conversas no ambiente familiar ou de trabalho, as queixas sobre o aumento do custo de vida são recorrentes. Não é raro encontrar alguém que diga que ir ao supermercado está cada vez mais caro. Antes da pandemia alguns produtos já acumulavam alta no preço e, desde março, alguns itens sofreram reajustes consideráveis, como a batata e o feijão. A alta de alguns alimentos tem sido puxada pela menor oferta. A estiagem afetou consideravelmente algumas safras, o que limita a disponibilidade de produtos no mercado, elevando os preços. A oferta e a procura são os maiores reguladores do mercado.
Cesta básica mais cara
A alta dos gêneros alimentícios é uma realidade em praticamente metade do país. A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos de maio aponta aumento no custo dos itens alimentícios em oito das 17 capitais pesquisadas. O levantamento é feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (Dieese). Em Porto Alegre, o custo estimado para a cesta básica foi de R$ 518,63, a 6ª mais cara do país. A variação em 12 meses é de 4,54%. Pelo estudo, o Rio de Janeiro tem a cesta básica mais cara do país – R$ 558,81 – enquanto que Aracaju tem a mais barata – R$ 400,15.
O conjunto de alimentos que compõem a cesta básica é tido como o necessário para suprir as demandas de alimentação para uma pessoa adulta durante o mês. Em Porto Alegre, seria necessário mais de meio salário mínimo – 53,65% – para garantir os alimentos.
Segundo o Dieese, a batata teve o preço majorado em nove das dez cidades pesquisadas. Em duas capitais, Goiânia e Campo Grande, o aumento superou 55%. A alta registrada foi causada pela redução da oferta de tubérculos no mercado.
O feijão apresentou alta em 15 das 17 capitais pesquisadas. A menor produção em função de problemas climáticos, e a demanda de consumo maior, foram os fatores que elevaram os preços em até 25% no caso do feijão carioca e 15% no feijão preto.
A farinha de trigo teve alta nos preços em oito das 10 capitais, com destaque para São Paulo (12,56%). Demanda aquecida por derivados de trigo e câmbio desvalorizado, encarecendo a importação, explicam a alta do produto.
Já o preço da banana diminuiu em 13 cidades em relação a abril. A retração é atribuída à menor demanda, por causa da pandemia. O tomate apresentou redução de valor em 15 capitais. A queda no preço foi de até 38%. Menor demanda devido à quarentena e maior oferta, com a colheita da safra de inverno, reduziram as cotações da fruta.
Composição
Para obter o valor da cesta básica em Porto Alegre, o Dieese pesquisa os seguintes alimentos e quantidades: carne (bovina sem osso) – 6,6 kg, leite UHT – 7,5 litros, feijão preto – 4,5 kg, arroz – 3kg, farinha de trigo – 1,5 kg, batata – 6kg, tomate – 9kg, pão francês – 6kg, café em pó – 600g, banana – 90 unidades, açúcar – 3kg, óleo de soja – 900 gramas, manteiga- 750 gamas.
Mais de R$ 500
Em Arroio do Meio não há um levantamento oficial quanto ao valor da cesta básica. A reportagem do AT, com base em pesquisa em dois dos maiores supermercados, feita no mesmo dia, apurou o custo aproximado do conjunto de alimentos, que ficou em R$ 503,42. Embora não tenha caráter oficial, o levantamento aponta um valor não muito distante da cesta básica da capital. Vale lembrar que os 13 itens e as respectivas quantidades são apenas uma referência nacional para se obter o custo da cesta básica e não, necessariamente, os alimentos que um adulto consome ou deveria consumir.
Para se obter este valor foram consideradas as quantidades estipuladas pelo Dieese e, sempre, os produtos de menor preço, independente da marca. Assim, o valor das compras pode ser maior, de acordo com a preferência do consumidor por determinada marca, ou menor, se houver algum item em promoção.
Reflexos da estiagem
Se num primeiro momento a estiagem causou grandes prejuízos no campo, agora o impacto chega também na cidade, diretamente no bolso do consumidor. Para a gerente da Divisão Varejo da Dália Alimentos, Vera Lucia Beneduzi, o reflexo da estiagem se dá em vários itens, como hortifrúti e grãos como o feijão, o arroz, e os tubérculos. A batata vem numa alta de preços desde o início de junho e já é vendida a mais de R$ 6 o quilo. O preço leite também já dá sinais de reajuste em função no aumento do custo da produção.
Para Vera, as perspectivas para os próximos meses são incertas. Principalmente em função da pandemia, bem como por questões climáticas, que interferem na produção de alimentos. A gerente projeta continuidade de crescimento nas vendas on-line, modalidade que está em constante crescimento e tendo uma boa aceitação do cliente. Vera também percebe que o cliente está se adequando às mudanças que a pandemia tem exigido. “Acredito que a tolerância e o senso de ajudar o próximo estão em vidência”, afirma.
Menor oferta de produtos
O gerente da Languiru, Sandro Luis Halmenschlager, também afirma que a estiagem ocasiona a menor oferta de vários alimentos, especialmente no setor de hortifrúti, a exemplo da batata, o que tem alavancado os preços. No caso do leite, que vem sendo comercializado a mais de R$ 3, prospecta redução nas próximas semanas, tendo em vista o período de safra. A produção no campo tende a aumentar em função das pastagens de inverno. Com maior oferta, o preço nas gôndolas deve cair.
Sandro também relata que a carne, especialmente a bovina, ficou mais cara por causa da estiagem. Os fornecedores alegam que o campo seco dificultou a engorda do gado, reduzindo o número de cabeças em condições de abate. No caso de aves e suínos o impacto é menor.
Um dos pontos que o gerente observa é que a pandemia também impacta no custo de produção. Muitos fornecedores tiveram que se readequar em função das medidas de prevenção. As indústrias estão trabalhando com o quadro de funcionários reduzido, o que afeta a produtividade, colocando menos produto no mercado. E, por outro lado, elas têm o mesmo custo operacional, ou até maior, para manter tudo funcionando. Com isso, o produto chega mais caro ao consumidor.
Segurança – Sandro destaca que, desde o início da pandemia, o supermercado tem adotado medidas de segurança, visando a proteção dos funcionários e clientes. Assim, é permitida a entrada de somente uma pessoa por família. Crianças não podem entrar, mas dispõem de um ambiente com monitoramento para aguardar enquanto a pessoa que acompanham faça as compras. As medidas visam reduzir o fluxo de pessoas na loja, que tem um limite de lotação. Além disso, há álcool gel nas entradas e todos os cestinhos e carinhos são higienizados. “Adotamos todas essas normas pensando na saúde de todos”, observa, pedindo que as pessoas compreendam a necessidade diante da pandemia.