Juliana Bianchini
Estudante de odontologia – Univates
Nas últimas semanas o tema racismo tem sido muito comentado nas mídias sociais em função da série de protestos antirracistas que estão acontecendo do mundo, em resposta à morte de George Floyd, nos EUA. Diversas pessoas, tanto famosos quanto anônimos aderiram a causa “Black Lives Matter”.
O fato é que, infelizmente, somente a partir de uma atrocidade dessas que a temática ganhou força e visibilidade no planeta, quando deveria ser um assunto muito mais abordado em todos os meios sociais, escolas, universidades, etc.
O curso de odontologia da Univates tem essa preocupação na formação dos profissionais dentistas. Em diversas aulas abordamos assuntos relevantes e de impacto social, a fim de conscientizar os estudantes e nos tornamos cirurgiões dentistas mais humanos. Dentre esses assuntos está o racismo, um tema de extrema importância e que instigou a mim e mais duas colegas a pesquisar mais sobre essa questão. Então no semestre letivo 2019-B, apresentamos um trabalho na II Mostra de Trabalhos Acadêmicos do curso de Odontologia, intitulado “A influência do racismo institucional na tomada de decisão clínica do cirurgião dentista: uma visão instigada pelo Challenge Based Learning (CBL)”. Nosso objetivo era verificar artigos que abordavam a temática, expondo a presença do racismo institucional no consultório odontológico, bem como seu influxo para com a tomada de decisão clínica, nesse sentido, analisando se há diferença na escolha de tratamento entre pacientes negros e brancos. Em todas as pesquisas realizadas referentes ao tema, verificou-se que a discriminação, mesmo que inconsciente, está inserida no meio odontológico por parte dos profissionais de saúde e cirurgiões-dentistas, influenciando os profissionais a escolher planos de tratamento mais simples e baratos para pessoas negras, por presumir que elas não têm condições de pagar procedimentos mais caros. Contudo, indicam procedimentos mais dispendiosos de tempo e custo à usuários de pele branca. Estudos feitos em faculdades de odontologia indicam que os universitários também tendem a optar por intervenções odontológicas menos favoráveis para pessoas de pele escura.
Incentivadas pelo propósito de conscientizar os estudantes de odontologia acerca do assunto obtivemos visibilidade para o tema, comovendo os colegas e professores. Como resultado, obtivemos o prêmio de trabalho destaque do evento, bem como uma menção honrosa pelo estudo realizado. O trabalho também será apresentado no 14º Congresso Internacional Rede Unida (com data ainda indefinida em função da pandemia) na cidade de Niterói/RJ. Dessa forma, iremos explanar sobre o assunto para que pessoas de diversos países e outros estados do Brasil tomem conhecimento dos fatos, dando mais força à temática.
A conscientização dos estudantes sobre temas que estão institucionalizados é muito importante para dotar os futuros profissionais de saúde das habilidades necessárias ao século XXI. A formação ocorre durante toda a vida, e se inserirmos estas questões durante a graduação, certamente veremos profissionais mais humanos e que terão suas decisões clínicas baseadas nas necessidades, almejando o melhor para cada usuário, deixando de lado preconceitos institucionalizados na sociedade. Além de importante, é muito necessário que utilizemos todos os recursos que estão ao nosso alcance para dar visibilidade à causa e contribuir com o árduo objetivo de exterminar o racismo.