Depois dos prejuízos incalculáveis deixados pela enchente da semana passada, o prefeito de Arroio do Meio, Klaus Werner Schnack, defende a criação de um sistema regional de monitoramento mais eficiente e que permita maior confiabilidade nos dados de elevação do rio Taquari. Em visita ao AT na tarde de terça-feira, Klaus falou sobre as primeiras medidas tomadas pelo município, a colaboração da comunidade e o legado que a enchente deve deixar.
Com experiência em outras cheias de grande proporção, a exemplo da de 2001, quando coordenava o setor de Planejamento do município, o prefeito ressaltou que o monitoramento vinha sendo feito de acordo com o protocolo habitual, tendo como referência Encantado e Estrela. A partir do meio-dia, houve desencontro de informações, o que prejudicou ações mais pontuais. Muitas famílias se prepararam para uma enchente parecida com a de 2001 e apenas elevaram seus móveis e foram duramente afetadas, pois o nível do rio foi 45 centímetros superior. Além disso, foram necessários mais de 50 resgates com barcos, noite adentro, feitos por voluntários.
Klaus acredita que a Região precisa se estruturar melhor para evitar que outras enchentes causem tantos prejuízos. Defende a criação de uma política de estado regional para o monitoramento das águas da bacia Taquari-Antas e percebe que este pode ser um dos legados desta enchente.
Ações
Depois que o nível da água estabilizou, já na madrugada de quinta-feira, e as pessoas em situação de maior risco tinham sido socorridas, era preciso dar amparo aos atingidos. Na noite, algumas pessoas precisaram de atendimento no Hospital São José, inclusive por hipotermia, enquanto outras foram encaminhadas para ginásios ou casa de familiares.
No dia seguinte, o prefeito e a vice Eluise Hammes lideraram ações pontuais. Ela na coordenação dos trabalhos de assistência social, e ele nos de ordem prática e de infraestrutura, como a contratação de geradores para o hospital, o prédio da prefeitura e do Serviços Urbanos, onde estavam centralizados também os servidores da secretaria de Obras que ficou ilhada, e a mobilização para o restabelecimento da energia elétrica e o fornecimento de água. “Pensamos em medidas emergenciais. Era preciso providenciar comida, água e fornecer roupas e agasalhos para as pessoas atingidas. Oferecer um sanduíche para quem não tinha um café da manhã, um almoço para quem não tinha como preparar suas refeições. Nosso foco inicial foi atender as pessoas”, relata, dizendo que novamente os voluntários com barcos foram fundamentais para que essas providências chegassem nas famílias ilhadas. Foram pelo menos 10 mil refeições entre café da manhã, almoço e janta. O município adquiriu marmitas em restaurantes locais e muitas refeições foram preparadas por voluntários.
O voluntariado e a colaboração da comunidade, segundo Schnack tem feito a diferença na vida de muitas pessoas. Inúmeras doações foram encaminhadas para os postos de coleta e também diretamente para os atingidos. “Milhares de mãos estão reconstruindo este cenário”, reforça, agradecendo a todos que se empenharam em auxiliar, sejam servidores municipais, os voluntários, e as muitas pessoas que estão fazendo doações, sejam de bens materiais ou do seu tempo e trabalho.
Entre as ações de ordem prática, o município já decretou Situação de Emergência, o que permite, entre outras situações, que as pessoas afetadas possam sacar recursos do FGTS. O encaminhamento do saque, no entanto, só poderá ser feito após a homologação do decreto pelo Governo do Estado. Na sexta-feira o prefeito solicitou, pessoalmente ao governador Eduardo Leite, que o Estado seja breve neste processo.
O município, que fez o deslocamento de famílias atingidas, também vem fazendo o recolhimento de entulhos e a limpeza da cidade. As secretarias atuam ainda em outros trabalhos de suporte, como o reparo de estradas e de situações de deslizamentos e na própria prevenção ao coronavírus. Klaus afirma que o número de novos casos deve crescer nos próximos dias e a secretaria de Saúde já está monitorando a situação.
Prejuízos
Embora os estragos não possam ser transformados em números, eles são expressivos. Muitas casas tiveram avarias e 15 são consideradas destruídas. O município pediu o apoio da Apreciam para a arrecadação de material de construção para os reparos. (Veja na página 14)
Estabelecimentos comerciais e industriais também foram afetados. Mercados perderam um grande volume de mercadorias e indústrias, a exemplo da Minuano, no Aimoré, tiveram prejuízos com a inundação.
O posto da Estratégia da Saúde da Família (ESF) Navegantes também foi atingido, com pelo menos 10 centímetros de água. A escola infantil Atalaia e a escola de Ensino Fundamental Construindo o Saber foram afetadas, bem como a Amam e o Abrigo de Menores.
No interior também há perdas, especialmente de silagem e nas estradas e acessos. No decorrer da semana máquinas patrolaram o trecho da ERS-482, em Arroio Grande, e fizeram a manutenção do eixo Picada Arroio do Meio e Forqueta Baixa. Questões pontuais provocadas pela enchente são monitoradas pelas equipes municipais.
Apesar do cenário desafiador, Klaus diz que é preciso agradecer por não haver perdas humanas e que os bens materiais, apesar da dificuldade, podem ser reconquistados. Salienta que ainda pode demorar um pouco para que tudo esteja de acordo e que a Administração e equipe segue trabalhando para o melhor da população.