A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 1º de outubro como o Dia Internacional do Idoso. Uma oportunidade para lembrar que a idade chega para todos e que, com ela, novos desafios e dificuldades surgem.
Dados apresentados pelo Ministério da Saúde apontam que, atualmente, os idosos representam 14,3% dos brasileiros, o que corresponde a 29,3 milhões de pessoas. O idoso do século XXI é diferente dos do passado. Mais ativos, modernos, ligados em tecnologia e exercícios físicos, os “novos idosos” são exemplo em longevidade e, também, buscam ter mais qualidade de vida.
Segundo o IBGE, atualmente, a expectativa de vida média do brasileiro ao nascer é de 76,3 anos de idade. Para os homens, 72,8 anos e para as mulheres, 79,9. O aumento da expectativa de vida está associado aos avanços na medicina e muito à consciência do cuidado. “Percebemos que o idoso está mais consciente com o autocuidado, assim como a família também está mais atenta àquilo que o idoso necessita. Reconhecemos que houve avanços na saúde dessas pessoas, mas sabemos que há muito ainda a ser melhorado”, destaca Émile Hirdes Krüger, médica psiquiatra, preceptora do Ambulatório de Psicogeriatria do Programa de Residência Médica da Rede Divina Providência – Hospital São José, de Arroio do Meio.
Saúde física e mental
Para a psiquiatra, a questão emocional vem sendo mais valorizada. Havia uma prevalência do físico sobre o mental. “Os aspectos físicos já vinham sendo alvo de atenção. Agora, o emocional passa a ocupar um espaço importante. É fundamental que ambos sejam tratados de forma integrada, pois é uma relação bidirecional, onde um interfere no outro. Sabe-se hoje, que a saúde mental influencia a saúde física e vice-versa”, enfatiza Émile Krüger.
Em sua rotina no ambulatório do São José, ela depara-se com muitos idosos que, quando adultos, não cuidaram da saúde mental e, ao chegar na velhice, percebem que estão sozinhos. “Isso se manifesta muito nas consultas. E precisamos conscientizá-los de que os seus sentimentos, as suas emoções contam. Muitos cuidaram do corpo, mas não do emocional. Por isso, sentem-se fragilizados, solitários”.
Os principais motivos que têm levado seus pacientes ao ambulatório são as questões de memória, os sintomas depressivos, incluindo o pensamento de suicídio. Mas, segundo a profissional, o que os aflige é a limitação física e como lidar com ela; as doenças; o fato de não poderem mais trabalhar. “Há uma queda no ânimo, na funcionalidade da maioria. Em contrapartida, outros começam a aproveitar, a enxergar a velhice como uma etapa para aproveitar a vida, usufruir do tempo, vincular-se aos filhos e netos de forma mais prazerosa. Já o afastamento da família é algo muito impactante. Os netos estudam, os filhos trabalham, não se relacionam mais com os seus idosos, surtindo neles uma tristeza profunda e o sentimento de solidão. Outra questão que merece muita atenção é o déficit visual e auditivo, que são os principais fatores de risco para a demência”, lembra a psiquiatra, destacando que essas restrições impedem o idoso de fazer coisas prazerosas, como ouvir música, conversar, assistir televisão, ler, entre várias atividades agradáveis.
Família e depressão
A convivência saudável e o envolvimento com a família são fundamentais para o equilíbrio mental do idoso. Entretanto, muitos familiares tratam sintomas mais sérios como aspectos naturais da velhice. “Não tenham algumas situações como normais: uma pessoa que gostava de fazer algo e para; que era falante e, de repente, aquieta-se, um idoso que gostava de encontrar amigos e agora os rejeita, que passa a queimar a comida, tem pequenas confusões ao longo do dia. Isso são sinais de que algo não está bem. Não são sintomas de ‘velho’. Os familiares devem estar alertas às diferenças nos padrões de comportamento”. Nesses casos, a médica recomenda que se converse com o idoso, mas com profundidade, questionando-o sobre seus sentimentos, sobre suas angústias, sobre dores. Segundo ela, deve-se ter uma escuta atenta. Olhar, conversar e escutar estão no topo das orientações para poder-se ajudar um idoso. E perceber que ele necessita de uma avaliação médica, especializada.
A psiquiatra dá dicas relevantes para a saúde mental na terceira idade:
• Mantenha-se ativo mental e emocionalmente, envolvendo-se com a família e amigos;
• Esclareça suas dúvidas, busque informações, descubra os motivos de suas limitações e trabalhe para melhorá-las;
• Aprenda atividades novas, mexa no celular, no computador, aprenda crochê, tricô, toque um novo instrumento, leia muito.
A médica ressalta que a pandemia agravou o isolamento que, na maioria dos casos, naturalmente já acomete os idosos. Como grupo de risco à covid-19, eles não receberam mais visitas. “Tenho dito aos pacientes que liguem, façam videochamadas para seus netos, filhos e amigos. Tentem manter-se em contato com as pessoas que amam”, finaliza Émile.


