Terça-feira viajei à terra natal para resolver um problema burocráticos que exigiam minha presença. Foi uma visita rápida que durou menos de três horas. Como sempre acontece trafegar pela BR-386 é um misto de reminiscências e satisfação pelo estado atual da rodovia.
Todos que têm mais de 50 anos durante décadas sonharam com melhorias para reduzir tempo e vidas inúmeros acidentes. Perdi amigos, parentes, colegas de aula e de trabalho na Estrada da Produção.
Pela manhã e à tardinha o trecho entre Lajeado e Porto Alegre exigia muita paciência dos motoristas. Ficava-se muito tempo atrás de comboios formados por carretas com excesso de peso, apesar da balança
localizada onde hoje está o município de Tabaí.
A BR-386 também desperta agradáveis recordações de inúmeras viagens como jornalista. Muitos amigos, porém, quando digo que foi para Arroio do Meio, retornando à tardinha, se surpreendem:
– O que? Tu é louco de ir e voltar no mesmo dia viajando por aquela estrada maluca? – costumam dizer, reflexo da fama história da rodovia.
Antônio Pacheco, colega que se tornou amigo, foi parceiro de inúmeras jornadas como fotógrafo da Zero Hora. Percorremos todas as regiões do Estado. Quase fomos linchados por índios em Iraí, tentaram virar o Fusca do jornal (conosco dentro!) numa greve de bancários no entro de Porto Alegre… Mas também devoramos muito churrasco regados por cerveja gelada.
Corri em direção à tenda para apartar
uma briga que teria mortos e feridos
Na volta de uma viagem às Missões, Pacheco embestou de comprar uma orquídea. Tentei demovê-lo. Sabia tratar-se de uma flor muito sensível e que exige muitos cuidados. Nada fez o Pangaré – apelido dado pelos colegas de redação – mudar de ideia. E assim foi feito.
Duas semanas, Pacheco cuspia fogo na minúscula Sala da Fotografia da ZH enquanto esbravejava:
– Esta m… de orquídea não durou 10 dias! Foi tudo por causa do “olho gordo” daquele alemão! – berrou, apontando na minha direção, seguido de uma estrondosa gargalhada.
Semanas mais tarde voltamos à estrada. Estranhei quando Pacheco pediu para parar o carro no acostamento. Ele, então, atravessou a BR-386 e disparou em direção à tenda recheada de orquídeas.
Pressentindo a confusão corri na intenção de apartar uma briga que parecia inevitável.
– Me devolve o dinheiro ou te furo de bala! – berrou meu colega enfurecido.
Trêmulo, o pobre comerciante deu até dinheiro a mais para salvar a vida. Chegando no carro, Pacheco desandou a rir:
– Gurizada! Hoje a cerveja e o espeto corrido… é tudo por minha conta!
Esta é apenas uma das inúmeras histórias me vem à mente quando visito a minha Arroio do Meio.

