De um lado, uma grande safra de grãos. Do outro, o preço em alta, trazendo desafios para a cadeia produtiva de proteína animal. A forte demanda no mercado interno e externo, aliada à alta do dólar, é um dos principais fatores para que o preço de grãos como milho e soja tenham disparado nos últimos meses. Além disso, no caso do milho, ainda há os impactos da frustração de safra em função da estiagem do fim de 2019 e início de 2020.
Para o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, os custos de produção mudaram de patamar especialmente em função dos preços do milho, soja e farelo de soja, que tiveram uma alta muito expressiva a partir do segundo semestre do ano passado.
Nos dois primeiros meses de 2021, quando entrou a safra de milho no Estado, os valores tiveram uma pequena queda, mas nada muito significativo. “Quando olhamos o custo de produção feito pela Embrapa, pegando o primeiro semestre de 2020, observamos o custo de produção médio em torno de R$ 4,20 a R$ 4,50 o quilo. Quando olhamos o custo de produção do segundo semestre, nós vemos que ele saltou, lá no final do ano, para quase R$ 7 o quilo. Na média, nós fechamos 2020 com o custo de produção por quilo de suíno em torno de R$ 6,90 a R$ 7, conforme estudos publicados pela Embrapa Suínos e Aves”, explana.
Além do custo do milho e da soja, principais insumos da alimentação suína, os produtores também enfrentaram outras altas de preços motivadas pela pandemia. É o caso das vitaminas, minerais, medicamentos, vacinas e produtos veterinários, que subiram de preço em função da redução da produção das fábricas por causa do coronavírus.
Os preços vêm se mantendo em patamares altos e sem a perspectiva de baixa. “Quando nós olhamos o primeiro trimestre de 2021, o custo de produção se mantém aos patamares de novembro e dezembro de 2020, por volta dos R$ 7 o quilo, na média. Isso demonstra que os custos não vão afrouxar”, avalia.
Para Folador, 2021 será um ano desafiador em função dos custos de produção, que tendem a se manter em alta. Observa que esta elevação está atrelada à forte demanda internacional por grãos. Em 2020 as exportações de milho e soja se mantiveram firmes, o que deve se repetir no decorrer de 2021, dada a demanda internacional.
A tendência, segundo ele, é que estes custos subam ainda mais. Na primeira quinzena de abril, os contratos futuros negociados na bolsa de valores já cotavam o milho em mais de R$ 100, com projeções de até R$ 120 a saca. Reflexos de uma possível quebra de safra em função do clima. “Estamos num período, de abril até início de agosto, de entressafra de oferta de milho no Brasil. Isto porque a safrinha ou a segunda safra do Centro-Oeste brasileiro foi plantada com atraso. Há uma preocupação de que haja uma quebra dessa safra em função do clima. Poucas chuvas para o bom desenvolvimento e desempenho das lavouras de milho do Centro-Oeste brasileiro, como um todo, para esta que se tornou a principal safra de milho do Brasil, produzindo mais do que a primeira. Então, isso é outro ponto de preocupação. E esses preços de milho que se observa em alta nas últimas semanas, vêm muito em função das expectativas do clima não estar ajudando o bom desempenho das lavouras de milho no Centro-Oeste. Além disso, essas lavouras foram plantadas com atraso e fora da janela ideal de plantio para ter um bom desempenho, para o período de chuvas mais ideal possível”, explica.
Para se precaver das oscilações futuras, o presidente da Acsurs sugere que os produtores façam um estoque de milho para atender a necessidade do seu plantel, a fim de que não passem por apertos ou escassez ainda maiores.
Mercado da carne
Se por um lado os custos de produção subiram, por outro a suinocultura vive um momento positivo desde o ano passado, com os preços tendo boa recuperação e excelentes resultados com as exportações. Segundo Folador, os grandes volumes exportados salvaram a suinocultura brasileira de uma maneira geral. Com isso houve rentabilidade, apesar dos altos custos de produção no segundo semestre.
A perspectiva para o decorrer deste ano é de que as exportações sejam igualmente ou ainda mais positivas. O primeiro trimestre, com volumes e valores faturados acima do mesmo período de 2020, demonstra que a suinocultura brasileira terá um bom ano em termos de mercado. “A perspectiva é que deveremos continuar assim o restante de 2021, com volumes de exportação muito significativos, superando a de 2020. É isso que vai salvar suinocultura brasileira”, prospecta.
Além do alto custo de produção, a suinocultura enfrenta a dificuldade do mercado interno, com o consumo bastante prejudicado pela questão da pandemia, com as paradas e restrições impostas em todos os estados brasileiros, especialmente nas principais regiões populacionais, onde o consumo é maior.
Por outro lado, a entrada de uma nova rodada do auxílio emergencial anima o setor. Isto porque boa parte dos beneficiados deve utilizar o recurso para a aquisição de comida. “A carne suína, do ponto de vista geral, comparada com a carne bovina, está num preço muito mais acessível, mais em conta, mesmo que ela tenha tido reajustes em função dos custos de produção maiores. A expectativa é de que, com a entrada desse dinheiro, mesmo sendo um valor muito menor do que foi no ano passado e com menos pessoas beneficiadas, ainda ajude a fazer com que a economia gire um pouco mais, favorecendo a carne suína”, avalia o representante dos produtores.
Mesmo que o preço da carne suína tenha sofrido reajuste para o consumidor final, Folador garante que o produtor não tem grande margem de lucro. “Nesse momento nós precisamos que os preços reajam para o produtor poder cobrir o custo da produção, e deixar alguma margem ao suinocultor gaúcho e brasileiro”.
Cautela e cuidado
Na análise do presidente, 2021 será um ano de desafios e oportunidades, de custos altos e exportações volumosas. Por isso, considera que o setor precisa se preparar e esteja atento para vencer os desafios. “O mercado é soberano e ele é quem determina as regras, quanto vai pagar. Isso muito em função de como vai girar a economia, de como tiver dinheiro no bolso do consumidor. Se ele tiver mais dinheiro vai comprar mais, se tiver menos automaticamente vai comprar menos. E isso atinge não só a cadeia produtiva da suinocultura, como todos os demais setores da produção de alimentos e outros setores também. Então é um ano de cautela e cuidado. De trabalhar com segurança, ter cuidado com o aumento de plantel, com o aumento da produção, para que nós não tenhamos uma produção superior ao mercado”, pontua, salientando que o mercado interno continua não sendo muito favorável para o ano.
O cenário, prospecta, deve mudar quando o Brasil chegar ao controle da pandemia e a vacina atinja mais de 60 ou 70% da população brasileira. “Para que a economia volte a girar e as pessoas possam voltar à sua vida normal, trabalhar, fazer os empregos retornarem, para que as pessoas possam voltar a consumir num ritmo normal. Então é o ano que traz muitos desafios”, pondera.
Sanidade
Para que não se feche nenhum mercado, em especial o externo, Folador ressalta que é preciso uma atenção especial à questão da sanidade animal. Enquanto cadeia produtiva, a suinocultura está bem no aspecto sanitário, tanto em âmbito de estado como de país. Mas ele lembra que o cuidado deve ser da produção animal como um todo, para que não se tenha nenhum tipo de enfermidade que possa vir a atrapalhar o mercado externo, as exportações. Uma questão sanitária, não necessariamente específica da suinocultura, pode trazer prejuízos sérios, como o fechamento de algum mercado. “Esse é o ponto essencial, é o ponto que pode, se nós tivermos algum acidente sanitário, trazer uma complicação e uma dor de cabeça ainda maior dentro do setor produtivo da suinocultura como um todo”.