Pelo segundo ano consecutivo, moradores da parte alta de Linha São João, no interior de Travesseiro, convivem com a falta de água. Durante a semana caminhões e tanques da Secretaria Municipal Agricultura auxiliaram os produtores com o transporte diário de 64 mil litros de água para não haver o comprometimento da produção ou perdas de lotes de frango ou suínos.
Na propriedade de Marcelo Spieker, 42 anos, as fontes que antes garantiam mais de 20 mil litros de água/dia para o abastecimento dos dois aviários com 42 mil frangos de corte, estão secando. Hoje fornecem apenas três mil litros, volume que é insuficiente para o desenvolvimento do lote que, nos últimos 42 dias, chega a consumir mais de 15 mil litros/dia.
Para suprir a demanda, um caminhão tem auxiliado o produtor com o transporte de água. Na última semana foram depositados 48 mil litros de água em uma cisterna com capacidade para 180 mil litros, que estava com um volume abaixo do normal. “Em sete anos de atividade, é a segunda seca que estamos enfrentando”, afirma.
Assim como Marcelo, outras 10 famílias de Linha São João ligadas à suinocultura e avicultura enfrentem problemas com o abastecimento de água. De acordo com o secretário da Agricultura, Ildo Rodrigues Godoy o problema está relacionado com a falta de chuvas neste início de abril. “Estamos há mais de duas semanas transportando água, os reservatórios estão com um nível baixo e as nascentes estão secando. Nossas máquinas trabalham intensamente na abertura de novas fontes e nascentes e auxiliam a instalação ou reformas de novas redes para garantir o abastecimento”, comenta.
Assim como na parte alta de Linha São João, outros problemas pontuais de falta de água foram registrados em Três Salto Baixo e Linha Cairu.
NOVO POÇO
Conforme o prefeito Gilmar Luiz Southier, algumas comunidades enfrentam há muitos anos sérios problemas com o abastecimento de água. Ele avalia que, em Linha São João, o sistema de abastecimento há muito tempo exigia melhorias. Com isso, recentemente, o município concluiu a perfuração de um novo poço tubular com mais de 550 metros de profundidade com vazão entre 8 a 10 mil litros/hora, o que exigiu um investimento em recursos próprios de R$ 242 mil.
Para a conclusão do projeto, restam agora a elaboração de um novo processo licitatório para a conclusão da rede, com a instalação de encanamentos, reservatórios, e cercamento da área onde está instalada o poço artesiano. O investimento estimado com isso é de mais R$ 65 mil. “A demanda por água tende a aumentar naquela região com a instalação de novos empreendimentos e isso exige a nossa colaboração e atenção”, garante o prefeito.
Arroio do Meio
A estiagem e o nível da água dos rios e arroios esteve em pauta na sessão da Câmara de Vereadores terça-feira (páginas 08 e 09). Oposicionistas defenderam políticas públicas para proteção de vertentes e fontes.
O técnico agrônomo da Emater/RS-Ascar, Elias de Marco revela que o uso sustentável da água superficial é muito mais econômico do que a perfuração de poços artesianos que é de alto risco, cara e não garante qualidade, mas que tem tido prioridade. Sustenta que há como armazenar água superficial com segurança e qualidade. A entidade é única credenciada no RS para esse tipo de intervenção, que é delicada, sensível e complexa.
Segundo Elias, hoje não há condições de enfrentar uma estiagem de 60 dias. E o pior, se uma bomba falhar na zona urbana, centenas de famílias serão afetadas, com risco de não ter como fazer a própria comida. Já em regiões mais desérticas, muitas comunidades usam a água do degelo das montanhas para o ano inteiro, inclusive na produção de alimentos. “A água é um bem de uso comum. Não podemos esperar situações mais drásticas para ver o tempo perdido. É prioridade cultural como o destino correto do lixo, que evoluiu muito nos últimos anos”, assinala.
O secretário da Agricultura Élcio Roni Lutz, desconhece situações de problemas de abastecimento para consumo animal. Mas confirma que a estiagem afetou a safrinha de milho. Muitos produtores precisaram antecipar a silagem para não perder tudo. “As espigas não se desenvolveram muito bem e os grãos estão murchos sem qualidade”, afirma.
Para emergências, Lutz sugere a solicitação de transporte de água potável na prefeitura. O frete é gratuito, o produtor só paga uma taxa de água para Corsan. O pedido deve ser feito no setor de protocolos.