Vai ser sepultado em Miami na Flórida, Estados Unidos, neste sábado, o corpo do industriário haitiano Miche Daout, 31 anos, morto em 5 de abril em Arroio do Meio, em situação que ainda está sendo investigada. Inicialmente, os trâmites do translado davam conta de que o sepultamento ocorreria no Haiti, mas a família optou por sepultar Daout em solo americano, onde reside. Ele era protestante e seu pai é pastor. As informações foram repassadas pelo presidente da Associação Haitiana de Futebol de Arroio do Meio, Bachmy François.
Na próxima semana a família deve vir para Arroio do Meio para resolver questões burocráticas referentes ao óbito e analisar a possibilidade de contestar na Justiça a ação dos policiais. De acordo com Bachmy, a comunidade haitiana no Vale do Taquari está revoltada com um suposto uso de força excessiva por parte da Brigada Militar que, segundo ele, deu três tiros com balas antimotim e quatro com arma de fogo, sendo que dois teriam atingido o pescoço de Miche. Os haitianos também questionam a falta de transparência durante o atendimento hospitalar e necropsia, pois não teria sido permitido o acompanhamento de nenhuma pessoa próxima.
A investigação está sendo conduzida pelo delegado Humberto Messa Rohrig, que está apurando os fatos. Segundo ele, o enquadramento de legítima defesa ou ilicitude com excesso de calibre, poderá ser avaliado analisando as técnicas operacionais das forças de segurança. “O número de tiros não é elevado. No uso progressivo de força, em situação de resistência à ação policial, o treinamento orienta disparos nas regiões dos indivíduos com maior massa corporal. Mas algo pode ter influência na trajetória balística ou até podem ter ocorridos erros nos disparos”.
Daout estava em Arroio do Meio há dois anos. Ele havia sido desligado de uma empresa recentemente. Conforme a polícia, no fim de tarde do dia 5, ele estaria embriagado e tentava se cortar com uma garrafa quebrada. Um colega que morava com ele teria acionado a BM para tentar intervir. A BM chegou ao local e tentou uma negociação sem êxito. Um dos policiais acabou sendo ferido. De acordo com a versão policial, houve tentativa de imobilização por armas não letais, mas o haitiano continuou atacando os brigadianos e o uso de arma de fogo foi inevitável. O homem foi socorrido pelo Samu e encaminhado ao Hospital São José, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.
Os quatro policiais militares que atenderam a ocorrência foram afastados até a conclusão da investigação.



