Admitir a idade é um desafio para muitas pessoas. Inúmeros tratamentos estéticos estão à disposição de quem persegue o “forever young”, o esforço incansável de aparentar jovialidade eterna com um rosto liso como bumbum de bebê – e livre de outras marcas do tempo -, bem como um suador diário em academias, ruas e, para completar, um mala lotada de cremes. Para os mortais comuns parece uma rotina cansativa. Para mim, tomar dois medicamentos – para hipertensão e colesterol – já é um sacrifício diário.
A pandemia (sempre ela!) promoveu mudanças radicais no planeta. Além daquelas repetidas à exaustão pela mídia, uma alteração de comportamento chama a atenção. Na corrida pela vida, a vacina é o símbolo da esperança de dias melhores de, quem sabe, um retorno à normalidade.
Dispor das vacinas exige planejamento, organização e muito dinheiro. Primeiro para a compra das doses, afinal, a lei da oferta e da procura ainda vigora, mesmo na crise sanitária mundial em que os medicamentos e alimentos dispararam de preço. Empatia? No mundo real o lucro fala mais alto, mesmo com milhares de óbitos.
Ser “jovem há mais tempo” tem
poucas, porém preciosas vantagens
Depois da aquisição da vacina, o desafio consiste em montar um sistema de logística para levar a todo país, com rapidez, as doses para aplicação massiva. Isso requer um sistema com rígidos critérios de definição dos grupos prioritários.
Este tem sido foco de grande polêmica. Existem muitos trabalhadores com contato direto com o público e estão expostos nas ruas todos os dias colocando em risco os familiares. Um tabu, no entanto, tem sido ignorado por muitas pessoas: a questão da idade.
Tenho visto muitas amigas que ficavam vexadas quando o assunto envolvia a data de nascimento. O uso de expressões antigas e de lembrança de medicamentos como Sibalena, mercúrio cromo e bálsamo alemão, por exemplo, denunciam o consagrado DNA: Data de Nascimento Antiga.
As redes sociais estão recheadas com fotos de amigas “jovens há mais tempo”. Elas aparecem sorridentes, com manga arregaçada e polegar em posição de “legal”. Ser mais velho, hoje, é sinônimo de imunização, de proteção contra o vírus mortal cuja origem, na China, talvez um dia seja desvendada para todo o mundo.
Em Porto Alegre, onde moro, a vacinação está na faixa dos 63 anos. Pela celeridade logo chegará a minha vez. Completo 61 em junho. Tenho o privilégio de viver no Brasil onde a expectativa de vida é de 73 anos para homens e 80 anos para as mulheres, segundo dados do IBGE. Quando nasci, em 1960, o brasileiro vivia, em média, até os 45 anos. É um enorme avanço que merece ser comemorado.
Ser jovem há mais tempo tem poucas, porém preciosas vantagens.

