A safra 2020/2021 ficou marcada pelo ataque das cigarrinhas nas lavouras de milho. Foi a primeira temporada que essa praga trouxe prejuízos econômicos relevantes ao RS, visto que o PR já a tinha enfrentado em safras passadas.
O supervisor da Comercial Agrícola Maná, Caciano Forti desenvolveu uma cartilha, baseada em estudos da Embrapa e análises a campo, para ajudar os produtores locais no combate da cigarrinha e minimização de recontágios para as próximas temporadas.
Segundo ele, o milho tardio ou a safrinha, foram os mais impactados, pois o estágio de desenvolvido coincidiu com o ciclo reprodutivo da cigarrinha, favorecido pelo clima quente. Entre os sinais o complexo de enfezamento vermelho, enfezamento pálido e da risca do milho, além da presença do pulgão alado, que transmite o vírus do mosaico da cana-de-açúcar (Virus – “SCMV”), responsável pelo tombamento do milho. Os enfezamentos em geral podem causar a redução do porte da planta e má formação de espiga, os sintomas são folhas avermelhadas, cloróticas e com estriamento no sentido da nervura principal. Muitas vezes são difíceis de ser identificados pois uma única planta pode apresentar a soma de todos eles. Na silagem, foi constada perda nutricional e de volume e, no grão, perdas expressivas pois a planta infectada acaba não finalizando o ciclo de forma natural.
Forti acredita que a falta de informações colaborou para as perdas. O momento em que a cigarrinha causa o maior dano na planta é do período da emergência até a formação de oito folhas. Por serem insetos de sangue frio, o ideal é a aplicação de inseticidas de madrugada, quando estão mais estáticos.
Ele explica que o problema não é o ataque da cigarrinha em si, e sim o potencial de transmissão de bactérias e vírus para outras plantas de milho. Espiroplasma, fitoplasma e vírus são os microrganismos causadores do complexo do enfezamento . “Ela só se reproduz no milho, podendo uma fêmea, em seu ciclo de vida, gerar mais de 600 ovos. A cigarrinha como vetor, se contamina em plantas de milho doente e transmite o contágio para outras plantas geralmente mais novas e, até então, sadias. Na fase de reprodução pode se deslocar de 10 a 30km. Se o produtor faz o manejo adequado, o custo do controle é relativamente barato, semelhante ao de outras pragas, e o combate é eficiente”, a dificuldade está em aplicar o manejo de forma coletiva. Em casos extremos de dano, órgãos governamentais da área agrícola podem aplicar o vazio sanitário no Rio Grande do Sul. Um dos agravantes de controle da cigarrinha é sua capacidade de migrar por grandes distâncias, reforçando a necessidade de controle regional para obtenção de sucesso.
Um dos passos para evitar com que os ovos eclodam na próxima safra é a eliminação do milho guacho, por ser fator determinante no ressurgimento da praga no futuro, e evitar numa mesma lavoura um milho novo perto do velho. “A geada pode ajudar no combate, mas o manejo e a atenção aos detalhes são cruciais e não devem contar com a sorte”, acrescenta.
Confira na sequencia os 10 mandamentos do combate à cigarrinha
01– Mantenha as lavouras limpas (faça dessecação com herbicidas) e elimine com antecedência as plantas hospedeiras (milho guacho) na área, nas margens de estradas, em lotes vagos e em canteiros; Vale lembrar que a cigarrinha somente se reproduz nas plantas de milho, que podem ser inoculo de vírus e bactérias do complexo do enfezamento.
02– Não semeie milho ao lado de lavouras com plantas adultas que apresentem sintomas de enfezamentos e/ou da virose da risca. Quanto mais plantas adultas doentes houver na lavoura adulta, maior será a população de cigarrinhas infectantes e mais plântulas da nova lavoura de milho serão infectadas;
03– sincronize o período de semeadura do milho na região. A determinação de uma janela de 20-30 dias para semeadura evita que as lavouras da região tenham idades diferentes e as plantas mais velhas sirvam de fonte de inoculo para as plantas mais jovens;
04– Escolha híbridos de milho com maior tolerância genética aos enfezamentos. Utilize a ferramenta de posicionamento de híbridos (abertura e fechamento de plantio) para diversificar e minimizar o problema de acordo com a característica de cada material associado com o pico populacional da praga e risco de enfezamentos; lembrando que o milho com maior tolerância e sem um bom manejo não é garantia de lavoura livre de perdas produtivas;
05– Utilize sementes certificadas e com tratamento industrial de inseticidas, pois possuem qualidade superior e ajudam a controlar a população de cigarrinhas desde a germinação até o estabelecimento da lavoura de milho; além disso, garantem pureza genética e biotecnologia para controle de algumas pragas;
06– Monitore a presença da cigarrinha-do-milho no início do desenvolvimento da lavoura, principalmente da emergência de até oito folhas e aplique inseticidas químicos e/ou biológicos nesse período, seguindo as recomendações técnicas de cada produto, com o objetivo de reduzir ao máximo a população de cigarrinhas e, consequentemente, dos enfezamentos; Para maximizar o controle da cigarrinha, faça a aplicação dos defensivos na hora mais fria do dia, normalmente coincidindo com a madrugada.
07– Use apenas inseticidas registrados para controle da cigarrinha, respeite a dose recomendada e rotacione os modos de ação dos inseticidas para evitar o desenvolvimento de resistência; O acompanhamento técnico é fundamental para o bom resultado e nenhum produto deve ser aplicado sem receituário agronômico;
08– Planeje a colheita e use máquinas bem reguladas para evitar perdas, não deixando grãos, espigas e fileiras remanescentes na lavoura; eliminar a presença de plantas de milho no período do inverno ou entre safras é crucial para diminuir a população de cigarrinhas e fontes a de bactérias e vírus do complexo de enfezamento.
09– Transporte o milho colhido em caminhões apropriados, evitando a dispersão de grãos pelas estradas; as plantas que permanecem vivas no inverno, em locais como beiras de estrada, servem de ponte verde para a cigarrinha gerar danos nas lavouras da próxima safra.
10– Faça rotação de cultivos, evite o plantio de milho sobre milho e o plantio de gramíneas na sequência. Além de ser um manejo crucial para reduzir a proliferação de todas as pragas e doenças, seu solo agradece.