O resgate e a preservação da história são a maior inspiração de Felipe Kuhn Braun, que recentemente esteve na região divulgando o seu 21º livro. As Noivas de Preto, publicado pela editora Oikos, de São Leopoldo. A obra, de 85 páginas, traz na capa um casal de noivos, cuja foto data de 1914. É apenas uma, das mais de 100 imagens que o livro traz.
“As noivas de preto são um capítulo peculiar na história da imigração alemã. O casar de preto é hoje uma vaga lembrança na memória das pessoas que estão entre nós, como nossos bisavôs, trisavôs ou tataravôs. Hoje, logicamente, a noiva é associada ao branco, mas, há mais de 100 anos, o preto não era relacionado apenas ao luto”, elucida o pesquisador e autor.
Braun concentra no livro a pesquisa feita com casais, cujas noivas casaram-se de preto, datando desde antes de 1900 até a década de 1940. São histórias de famílias do Vale do Taquari, do Sinos, do Caí, do Paranhana e da Região das Hortênsias.
Todo o trabalho de pesquisa para As Noivas de Preto envolveu várias fontes, mas sua base já era parte do acervo de estudos feitos por Braun ao longo de sua trajetória como historiador e autor. São 19 anos de pesquisas, envolvendo mais de 700 famílias de diferentes estados e países tais como Argentina e Alemanha. “Tudo isso formou um acervo de 40 mil fotos antigas, das quais, 250 eram noivas de preto, sendo 111 publicadas neste livro”, conta.
Quem quiser adquirir o livro, que está disponível em formato físico e e-book, pode entrar em contato pelo 51 999711456 (fone/whats).
A obra de Braun
Da idade média até o século XX, as noivas de origem germânica casavam trajando vestido preto. Desde o “Direito de Primeira Noite” (registrado na Idade Média, durante o feudalismo, que permitiria ao senhor feudal, no âmbito de seus domínios, a noiva na sua noite de núpcias), tema tão controverso da história, ao casamento por luto em razão do falecimento de alguém próximo, boa parte das noivas passavam muitas dificuldades, especialmente de ordem econômica e o preto foi, por séculos, utilizado em formais e elegantes vestes de casamento. “Às vezes a pessoa tirava a vida inteira uma, talvez duas fotos. Uma tia-avó minha casou-se de preto e a única foto que a família tem dela é a do casamento. Naquela época, foto era algo novo, caro,” explica.
Braun escreve sobre o regime de servidão do período Medieval, sobre a vida rural, as dificuldades encontradas na Europa, a migração como alternativa, as dificuldades encontradas na América, o crescimento das famílias e as novas migrações. Em todos estes períodos, como atestam os documentos, a bibliografia e as fotografias existentes, o costume de casar de preto foi um dos hábitos culturais mais duradouros. “O tecido preto tem uma durabilidade maior, muitas vezes era o vestido da vida inteira, dependendo da condição financeira. Tudo isso é possível perceber nos detalhes. Esposas e filhas de comerciantes, porque o comércio gerava riqueza a uma comunidade, e mais ainda para os comerciantes, tinham os vestidos com mais detalhes”.
Braun mostra que a mesma lógica se aplicava aos diferentes tipos de véus e também aos buquês das noivas. “Desde as mais humildes, até as com mais condições usavam véu, mas também havia as sem o adereço. Na Alemanha, descobri que o quanto maior ele era, maior eram as condições financeiras da família, mas não consegui confirmar se isso se aplicava aqui, pois o material escrito referente a este assunto é pouquíssimo”.
Curiosidades trazidas na obra:
– Consta do ano de 1853 o primeiro registro fotográfico realizado no estado do Rio Grande do Sul, na capital da província, Porto Alegre. Ali se estabeleceram os primeiros fotógrafos, de origens portuguesa, alemã, francesa e italiana.
– Antigamente, no interior, as famílias tiravam poucas fotografias. Muitas localidades não tinham fotógrafos. Para registrar um momento familiar, era preciso ir até uma cidade maior ou esperar que um fotógrafo viajante aparecesse.
– Do século XIX, em que a maioria dos casamentos era realizada com trajes pretos, tanto nas colônias, como nas cidades maiores, foram conseguidas poucas imagens e a maioria delas não tem identificação.
– A maioria das imagens encontradas que relatam esse costume do início do século XX são também as últimas décadas em que as noivas ainda usavam vestidos pretos nas localidades do interior. O costume era deixado de lado dando lugar ao branco.
– Nem sempre era possível fazer a foto no dia do casamento, então o casal ia até o estúdio do fotógrafo, trajando as roupas da festa.
– Era comum nas festas realizar uma grande foto coletiva com os noivos e todos os convidados, geralmente em um ambiente externo.
– Enquanto na Alemanha os casais costumavam deixar-se fotografar sem flores ou com singelos arranjos, no RS os buquês eram muito presentes, assim como decoração de flores ao redor do casal.
– A última fotografia do acervo com uma noiva de preto é de 1941. Addy Sander, casada com Edvino von Hohendorff também estampa a abertura da obra de Braun, com foto atual, a quem ele dedica o livro.