Natural de Rio Grande, a oficial escrevente Jô Thomas mora na Barra do Forqueta, Arroio do Meio, com o marido Odair Thomas e o filho Gabriel, de oito anos. Apesar da atuação profissional voltada para o judiciário, é nas artes que Jô tem se destacado e conquistado seguidores, com a página no Instagram @garimparia_decor, onde mostra com fotos e vídeos que decorar pode ser muito simples e não requer grandes investimentos em peças caras. A palavra de ordem é ressignificar, dando nova roupagem e visual a coisas que todos têm em casa e que são acessíveis.
“Sempre gostei do trabalho manual, meu pai gostava muito de fazer isso também, sempre gostou de trabalhar com madeira. Desde criança, aprendi a fazer com ele, e também a costurar, pintar, bordar”, recorda Jô. Ela intensificou seu trabalho estilo “faça você mesmo”, quando veio para a região. “Em casa mesmo, para amigos, para a família, eu sempre fui fazendo. Era uma forma, também, de exercitar essa criatividade que eu sempre tive, desse trabalho. Quando viemos morar aqui na casa (Barra do Forqueta) no ano passado, então, eu criei o Garimparia. Mudamos bem na época da pandemia, estava tudo fechado, muito do projeto da casa, da decoração dela parou em função disso e, então, tive que adaptar o que tinha à nova casa. Gostei tanto do resultado, que comecei a compartilhar com as pessoas essas atividades, essa possibilidade de reaproveitar, de ressignificar tanto móveis, quanto objetos. Até porque, hoje em dia, a gente vive um excesso de lixo, né? Tudo se coloca fora, geralmente as cidades não têm muita estrutura para esse tratamento do lixo e as coisas acabam até perecendo na rua mesmo. Sempre gostei muito desse tratamento do que pode ser reciclado, do que pode ser ressignificado e do que realmente é lixo”.
Sua proposta com o Garimparia também é mostrar que decoração não é sinônimo de grandes despesas e artigos caros e que as pessoas têm a habilidade e a possibilidade também de fazer a decoração em casa gastando pouco. “Eu sempre digo que a gente pode fazer muito com pouco, é uma regra que bate em todos os projetos, aqui, quando eu crio alguma coisa”.
Jô ressalta que a ressignificação, além de reaproveitar, quer dizer dar uma nova vida a um móvel ou objeto que, muitas vezes, tem caráter afetivo para seus donos. “Aqui no meu ateliê, por exemplo, minha mesa de trabalho era o berço do meu filho. A gente avaliou bem antes de fazer uma doação a alguém que precisasse e a possibilidade de ressignificar ele aqui. Como ele já tinha alguns defeitos e é um modelo antigo, que já não teria aquele conforto para oferecer, preferi ficar com o berço. Às vezes é só isso, um olhar diferente, uma pintura, um novo adereço, adesivar e pronto, aquele móvel ganha um novo significado, até porque ele tem uma qualidade boa, só está um pouco desgastado pelo tempo mesmo”, explica.
A página do Garimparia no Instagram foi criada em maio do ano passado e o que seria apenas um diário da construção da casa e sua decoração, foi ganhando seguidores e ampliando sua proposta. Hoje a página traz o diário das criações de Jô, sugestões, passo a passo e um pouco das vivências da família, que também se une na realização de muitos destes projetos. “Tenho muitos contatos, as pessoas me chamam no direct, pedem ideias e dicas. Dizem coisas como: nunca pensei que eu poderia fazer isso; nossa, eu também tenho isso em casa, eu nunca pensei o que eu poderia fazer; pedem informações sobre valores, onde eu comprei, se é possível fazer de uma forma diferente, se serve essa tinta ou aquela outra”, detalha Jô, muito satisfeita.
A pandemia e o “faça você mesmo”
Jô avalia que a política do “faça você mesmo,” o hábito de reaproveitar, chegou tardiamente para o brasileiro, em comparação com os demais lugares do mundo. “E, aqui no sul, eu ainda vejo que ele está chegando um pouco mais devagar”, completa. Conta que fica contente quando os seguidores participam da página com suas dúvidas e ressalta que o hábito de reaproveitar tem um potencial grande, principalmente nesta região, que tem uma história muito rica e cujas famílias costumam herdar móveis antigos, itens que já pertenceram aos antepassados e que são de valor sentimental.
Existem muitos artesãos que trabalham aqui na região, que fazem trabalhos maravilhosos e que, às vezes, não são tão reconhecidos”, lamenta. Jô considera que a pandemia trouxe um olhar diferenciado para esse trabalho, quando muitas pessoas estão mais em casa e buscam se ocupar e aprender coisas novas. “Durante muito tempo o trabalho artesanal, o manual, acabou perdendo seu valor. E agora vejo esse resgate e fico muito feliz”.
Todo o trabalho organizado e mostrado na página de Jô é feito por ela, fora do horário de seu trabalho no Judiciário de Lajeado, com a ajuda da família, principalmente do filho que adora participar e que se mostra um pequeno aprendiz de suas artes. “É uma forma de a gente interagir, principalmente nesse período que estamos muito em casa, eu estive bastante tempo em home office, meu filho com aulas on-line, meu marido também, então acabamos fazendo essa interação para tornar esses dias mais fáceis, mais leves”.
Para finalizar, Jô ressalta que muitas vezes as pessoas não fazem alguma coisa que querem em casa, uma decoração, uma transformação, porque acham que não têm habilidade. “Só fazendo é que ela vai conseguir. Se desafiando, saindo um pouco da zona de conforto dela. E isso que eu tenho visto muito, pessoas que nunca pintaram, nunca desenharam, nunca recortaram que vão lá e fazem. Não importa, melhor feito do que perfeito, a pessoa fez, se desafiou, ficou feliz, depois vai poder se elogiar, melhorar a sua própria visão de si. Além de uma economia, o trabalho manual é uma terapia, tempo, para exercitar a mente, a criatividade e juntar a família, uma autossatisfação”, conclui.