A Operação Covil de Dragões, realizada na semana passada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) desarticulou uma quadrilha que movimentava mais de R$ 40 mil mensais em drogas ilícitas em Arroio do Meio. Só em 2020, a Draco realizou mais de 80 prisões em flagrante ou decorrentes de investigação no Vale do Taquari.
Segundo o delegado Dinarte Marshall Jr., as drogas são a maior economia ilícita mundial. Países de primeiro mundo como os EUA e potências da Europa – Inglaterra e Alemanha – têm dificuldades para frear o consumo e a entrada dessas substâncias. “No Brasil, que tem dimensões continentais não é diferente. A maioria das drogas vem de fora, pelos mais de 16 mil km de fronteiras secas e nos mais 8 mil km de litoral que têm diversos portos. Logicamente o Vale do Taquari, por ter o 6º PIB do RS, é de interesse dos narcotraficantes”.
Marshall explica que, no RS, há aproximadamente oito anos, o tráfico de drogas e outros crimes como estelionatos, roubos, furtos qualificados, cigarros contrabandeados e jogos de azar, começaram a ser controlados por duas facções da região Metropolitana e Vale dos Sinos. Na região, 90% dos pontos de venda já são controlados por estas facções, que disputam esse território.
Maconha, cocaína e crack seguem liderando as estatísticas de consumo, entretanto, cresce a comercialização de drogas sintéticas – produzidas a partir da matéria prima da indústria farmacêutica e veterinária também, vindas de fora, já que a aquisição em âmbito federal exige licença da Anvisa. “Existem opções de todos os preços. Embora os eventos tenham diminuído, as festas clandestinas continuam. A fabricação é muito simples. Já desarticulamos ‘laboratórios’ em cozinhas, até em galpões. Os usuários precisam estar cientes de que não são produtos medicinais, e muitas vezes são diluídos em agentes tóxicos, o que torna o consumo bastante nocivo à saúde”.
Marshall acredita que algumas medidas governamentais e não governamentais, com a participação da sociedade, podem melhorar os indicadores em médio e longo prazo. Entre eles, a obrigatoriedade da conscientização sobre o risco das drogas no currículo escolar. “O consumo de drogas inicia na adolescência, muitas vezes na infância. Pode começar pelas lícitas”. Segundo ele também falta uma rede de tratamento pública, pelo SUS, para recuperação de usuários. “Boa parte dos crimes patrimoniais e 90% dos homicídios – não os feminicídios – estão ligados ao consumo de drogas”.
Paralelamente, a sociedade pode fazer sua parte com a valorização da família, a religiosidade, e outras iniciativas semelhantes à Central Única das Favelas, para evitar com que jovens sejam captados pelo tráfico. Conforme ele, a espiritualidade é muito importante na ressocialização de detentos, mas a sociedade pode se engajar em alguns valores antes de ocorrerem perdas humanas.
Felizmente, segundo o delegado, no Vale do Taquari a comunidade é muito engajada em colaborar com as forças policiais. A própria Draco, que foi implantada em 2019, recebeu muitas doações para infraestrutura e tecnologia, além do prédio sediado pelo município de Lajeado. Mas também destaca outras diversas iniciativas como a construção do presídio feminino de Lajeado e auxílios na rotina das instituições. “A ajuda da comunidade às forças de segurança evidencia que aqui não se tolera o crime”.
Na Draco, apesar da estrutura ser considerada satisfatória, faltam viaturas SUV e veículos discretos para investigações. Existe a expectativa de que estejam previstas no orçamento do governo estadual para 2022. “Como geralmente demora para conseguirmos a cedência de viaturas de outras delegacias, acabamos utilizando os nossos veículos particulares”.
Na avaliação do delegado, a Polícia, o Ministério Público e a Justiça estão cumprindo com seu papel investigativo e repreensivo. “O elo frágil é o sistema carcerário, que demanda de investimentos urgentes em infraestrutura física, tecnológica e recursos humanos. Hoje o Estado não controla os presídios. O crime organizado é coordenado de dentro deles. Só em Lajeado, são apreendidos mensalmente mais de 20 celulares. No início da semana tivemos um agente penitenciário morto na Serra Gaúcha. Tiramos os criminosos de circulação, mas os crimes continuam e pontos fechados, logo são assumidos por outros, a mando de quem está preso”.
Dinarte Marshall Jr. está na região desde 2014 e teve a oportunidade de atuar em praticamente todas as delegacias. Antes do Vale do Taquari, atuou em Igrejinha, no Vale do Paranhana e em Frederico Westphalen, no Alto Uruguai.