Natural de Encantando, Simone Stulp assumiu em janeiro a pasta de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado (SICT) do Estado e leva o nome do Vale do Taquari a uma outra esfera. Mestre e doutora em Engenharia de Materiais, Simone foi professora da Univates, e em Lajeado, atuou como articuladora do movimento Pro_Move.
A tecnologia permeia sua trajetória profissional e ela acredita que é preciso qualificar mais pessoas nas ciências e na matemática. Ela acredita na inteligência artificial como forma de melhorar nossas vidas.
Jornal O Alto Taquari – A secretária coordena a parta da Inovação e Tecnologia. O Governo do RS prioriza investimentos que colocam o Estado no mapa global da inovação. Como titular da pasta e como experiente em projetos do estilo no Vale do Taquari, quando esteve à frente da Tecnovates, poderia fornecer um panorama que como empresas gaúchas e do Vale lidam com a inovação?
Secretária da Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado (SICT) Simone Stulp – A região dos Vales vem se destacando no tema inovação e tem uma atuação muito avançada e conectada da quádrupla hélice – com o entendimento do poder público, das universidades, parques e hubs de inovação, sociedade civil e, claro, também das empresas. As empresas são engajadas no tema e muitas delas já são parceiras de iniciativas e projetos aprovados em editais da Sict. É importante ressaltar o incentivo do governo estadual por meio do programa Inova RS, que divide o Estado em 8 ecossistemas regionais de inovação – incluindo a região dos Vales – para que cada um deles possa se desenvolver de acordo com suas especificidades, de forma que esse crescimento seja potencializado. A atuação conjunta embasa uma estratégia sólida para fortalecer os setores agroalimentar, de saúde e de serviços na região. Temos que entender que a inovação é um meio, não um fim – e, portanto, serve para melhoria da qualidade de vida e para estabelecer processos cada vez mais efetivos. A sociedade toda ganha quando o setor privado entende isso.
AT – Empresas e trabalhadores estão preparados? Onde é preciso avançar mais e o que é preciso deixar de ser feito?
Simone Stulp – Precisamos avançar na qualificação de mão de obra, sobretudo nas chamadas áreas Stem (sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática), que são setores que demandam muitas pessoas com conhecimento específico e que hoje têm mais vagas em aberto do que candidatos. Portanto, somos sensíveis a essas demandas e vamos fomentar a criação de mão de obra qualificada. Acredito, ainda, que cada vez mais a inovação deve ser incorporada como valor, como meio de qualificar processos, agilizar demandas e gerar bem-estar para as pessoas, dentro e fora de empresas.
AT – Que políticas públicas e investimentos o governo está implementando na área da inovação tecnológica? E os resultados a partir destes investimentos?
Simone Stulp – A Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS tem diversos programas que trabalham na área de inovação tecnológica – e fomentamos projetos da quádrupla hélice via edital. Os principais são o Inova RS, que denominamos de nosso programa “guarda-chuva”, uma vez que ele estabeleceu as bases para a divisão do RS em oito ecossistemas regionais de inovação. Também temos o Techfuturo, que apoia projetos disruptivos em tecnologias portadoras de futuro. Juntos, os dois programas somam investimentos superiores a R$ 15 milhões. Também contamos com projetos apoiados e financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), que é vinculada à Sict. Somando os investimentos dos programas da Sict e os aportes da Fapergs, o ecossistema dos Vales recebeu o montante de R$ 13,7 milhões nos últimos quatro anos.
Na região dos Vales, apoiamos projetos que estudam o desenvolvimento de bioprodutos a partir de resíduos agroindustriais para aplicação como suplementos na nutrição animal, apoiamos a implantação do Living Vales (laboratório vivo dentro da Universidade de Santa Cruz do Sul) e projetos sistêmicos, sempre com a participação da quádrupla hélice, para desenvolver o ecossistema de inovação.
O resultado é visualizado por meio do incremento na agilidade de processos, qualidade de vida e integração de atores. Além disso, sempre há o retorno econômico, que gera incrementos no Produto Interno Bruto (PIB) de uma região.
AT – Que avaliação a senhora faz em relação ao Porto Alegre South Summit e ao Gramado Summit?
Simone Stulp – O South Summit Brazil, realizado pela segunda vez em Porto Alegre, no Cais Mauá, foi um sucesso, superando todas as expectativas e excedendo os números da edição do ano passado. Mais de 22 mil pessoas prestigiaram o evento, que atraiu todos os atores do ecossistema de inovação brasileiro e global, colocando definitivamente o Rio Grande do Sul no mapa global da inovação. Promovemos discussões muito ricas a respeito de ESG, agro, educação, saúde, semicondutores e inovação social, áreas extremamente importantes ao desenvolvimento sustentável do nosso Estado e que já são priorizadas no Planejamento Estratégico da Sict para o período de 2023-2026.
O Gramado Summit também foi uma grata surpresa. Evento já tradicional na agenda de inovação do nosso estado, pela primeira vez ele teve a correalização do governo do Rio Grande do Sul, o que mostra o quanto estamos dispostos a investir em eventos que fomentem esse motor da nova economia que é a inovação. Não podemos mais falar de desenvolvimento econômico sem falar em inovação, e me orgulho de liderar a pasta da Sict em um momento tão propício quando este. A responsabilidade é grande, mas, para quem gosta de desafios (como é meu caso), é muito gratificante.
AT – Há um temor de que a inteligência artificial interfira nos empregos formais como a maioria conhece. Até que ponto este temor procede?
Simone Stulp – É uma discussão que está muito em voga, até porque a todo momento temos novidades altamente disruptivas em Inteligência Artificial, como o ChatGPT. Se por um lado as IAs nos permitem facilidades e avanços concretos que repercutem na nossa qualidade de vida, existe um debate ético – e muito oportuno – a respeito dos limites. E é a regulamentação da área que vai estabelecer estes limites. Espero que estas regras nos ofereçam um equilíbrio, de forma que possamos usar as IAs para melhorar nossas vidas.
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