O neto de 6 anos e eu olhávamos fotografias de um hotel situado numa reserva florestal. A imaginação do menino voava. Ele estava se vendo lá, percorrendo trilhas na mata, tomando banho em piscinas naturais, subindo em árvores. Que máximo!
Quando eu disse que também queria me hospedar ali, ele se virou espantado e exclamou:
– Mas não é hotel pra velhinhos!
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Com frequência os muito jovens fazem prova de que pertencemos a outro tempo. Outro planeta, quem sabe. Eles mal conseguem imaginar a vida sem carro, sem televisão, sem celular. Que fará, então, a vida sem energia elétrica!
Sem energia elétrica não era possível iluminar a casa com outra luz além daquela que vinha do lampião. Não tinha geladeira, máquina de lavar roupa, nem confortos que hoje são banais. Isto significava lavar a roupa à mão, peça por peça, e dar graças a Deus quando a água era abundante. Isto significava tomar banho em chuveiro abastecido pela água colocada no recipiente do qual ela escoria. O banhista que administrasse. Melhor a água não acabar com o corpo ainda ensaboado…
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Os netos quase duvidam que pudesse existir vida sem supermercado. Eles só conhecem o bife de frango, que já vem cortado e embalado.
Como explicar que frango na mesa era uma história que começava lá atrás? Tinha de capturar uma galinha no galinheiro. Depois, puxar-lhe o pescoço. Sim, crianças, era preciso matar a galinha viva! Aí cabia escaldar com água quente para poder tirar as penas. Na sequência, entrava a faca em condições de abrir a barriga e retirar as vísceras. Depois, era picar em partes, lavar e escolher os pedaços que iam para a panela. Isto requeria, claro, ter acendido antes o fogo no fogão – com gravetos e lenha.
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Outra maneira de conhecer a idade das pessoas é observar a forma como abrem um pacote de presente.
Observe como uma criança hoje lida com o embrulho e lembre do modo como você fazia. Você desamarrava o cordão ou descolava cuidadosamente a fita “durex”. Cuidava para não rasgar o papel e fazia isto por dois motivos. Primeiro, olhar as figuras estampadas era tão bom ou, até melhor, do que o presente propriamente dito. Segundo, o papel serviria para encapar livros e cadernos ou para embalar outros produtos.
Papel de presente fazia parte do presente.
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Você pode dizer aí que o mundo moderno criou necessidades desnecessárias – mas tem alguma esperança de que os netos vão acreditar nesses velhinhos?