A Semana Santa, assim como o Natal, entre outras datas consagradas, remetem à infância. É inevitável e, diga-se de passagem, não é saudosismo, apesar das minhas 62 “primaveras no jardim da vida”. As lembranças da época em que o coelhinho é o personagem central estão bastante vivas na memória.
Colocar um calçado na janela esperando que ao amanhecer um bombom, chocolate ou qualquer guloseima estivesse depositada era uma brincadeira inesquecível. Mesmo depois de descobrir de que se tratava de uma artimanha dos pais eu esperava que mantivessem este hábito. O detalhe que tornava mais verossímil “a presença do coelho” eram suas pegadas que iam de uma janela à outra, feita com farinha ou talco. Era um embuste perfeito!
A Semana Santa era marcada por grandes emoções, surpresas e atividades voltadas à comemoração do renascimento de Cristo. Na Escola Luterana São Paulo, sob a batuta da saudosa Dorotéa Suhre, havia inúmeras atividades como pintar cascas de ovos que trazíamos de casa. Terminado o serviço era hora de levar para casa para que a mãe enchesse com amendoim. Depois cobríamos o orifício com papel celofane ou outro, desde que fosse colorido e caprichosamente recortado em forma de zigue-zague.
O domingo de Páscoa era o auge das comemorações. Era um momento de muita ansiedade. Acordávamos muito cedo, ainda escuro, para caprichar na roupa, no penteado feito com esmero e no sapato lustrado com afinco. Toda esta preparação visava a ida ao culto que, por ser uma data especial, demorava muito para terminar. O sermão era a parte mais maçante, causava sono. Isso sempre rendia cutucões da minha mãe.
A caça ao ninho era o ápice das comemorações de Páscoa
– Acorda! Tu não para de bocejar… só falta começar a roncar! – Sussurrava dona Gerti no meu ouvido já tomado pelo sono.
Finalmente quando o culto terminava íamos até a entrada da igreja para nos despedirmos do pastor. E de lá íamos direto para casa. A caça aos ninhos era o ápice das comemorações de Páscoa. A cada ano ficava mais difícil encontrar o cesto multicolorido, repleto de gostosuras como pão de mel, balas de todo tipo, bombons, chocolates em barra, bala de goma, ovos, entre outras atrações.
O almoço também era especial em relação aos outros domingos, inclusive em relação ao cardápio. Neste dia podíamos beber refrigerante à vontade, muito diferente do que normalmente acontecia, à exceção dos aniversários. Muita gente estranha quando conto. Afinal, meu pai trabalhava na Kirst & Cia. Ltda., empresa hoje conhecida como Bebidas Fruki, fundada por meu avô materno, Bruno Kirst.
Eram “bons tempos” sempre lembrados e que arrancam sorrisos pelas recordações inesquecíveis. O consumismo embaçou um pouco o significado não só da Páscoa, mas de outras datas. Mas consola saber que muitas crianças, em casa ou na escola, ainda mantêm o espírito de renascimento.
Feliz Páscoa!