Já que o coelhinho demorava a se mexer, fui em busca de uns doces para a Páscoa.
É preciso adoçar a vida!
Mais uma vez e de novo, me dei conta da mudança no cenário onde fazemos compras. Talvez, seja esse o espaço que mais se transformou.
Antigamente, tudo estava disponível ali na venda – que era como se chamavam as lojas que atendiam nossas necessidades. (Aliás, tudo que estava disponível era ridiculamente pouco, se comparado com o que agora está.) Falo do tempo anterior ao shopping, essa invenção destinada a embaralhar conceitos. Os shoppings botaram pra correr a noção de que há coisas necessárias.
Na venda, quem atendia era em geral o dono. A gente entrava e cumprimentava. Ficava aguardando autorização para desfiar a lista vinda de casa. Solicitava um item e esperava vê-lo depositado no balcão, para dar prosseguimento à compra. Compravam-se as coisas necessárias: erva-mate, farinha, fósforos, sal… Quem precisava de biscoito em creme de avelãs? Quem precisava de coca light? Quem precisava de limpa-vidros com perfume de jasmim? Se fosse antes da Páscoa, a gente incluiria algo para contornar a abstinência de carne, que era de preceito guardar na sexta-feira santa, e ia acrescentar uns docinhos para as crianças. Pronto!
De qualquer forma, para a Páscoa, a oferta na venda era modesta. Ovos de açúcar, com decoração bonita, mas nem tão cobiçados como seria de esperar (tinham gosto de açúcar e, se fosse para comer açúcar, a gente iria no açucareiro, ora). Uns chocolates embrulhados em papel dourado, balas de goma e caramelos em geral. Pronto!
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Não estou falando do passado, para fazer o elogio dos velhos tempos. Minhas saudades são pequenas. O passado que eu vivi era mais duro, mais cheio de formalidades e mais avaro. Acho que os costumes obedeciam a um planejamento muito estático. Os costumes eram mantidos no ferrolho. Acontecia de o ritual ser mais valorizado do que o próprio conteúdo.
Hoje, o imbróglio é outro.
Hoje, há coisas demais, distrações demais. O perigo é submergir entre os pacotes ou no glamour do mundo virtual e, novamente, perder o conteúdo.
O que anima hoje é que agora há mais liberdade de escolher. Tolera-se melhor quem resolver mudar seu rumo. É possível se lixar que gostem ou não gostem do nossa opção. É possível dispensar coisas e costumes, fugir das embalagens, dos agitos, dos barulhos. Ficar só com o silêncio, na partilha da alegria.
Mesmo se não parece, dá para dispensar essa coisarada toda e grudar-se no miolo.
Não fazer nada de importante. Apenas ser e estar.
(Apenas?)