Letícia chegou na vida de Maria Zanatta Bonni como um presente. Após oito anos de casada, a professora optou pela decisão de ter um filho. Após alguns tratamentos, mas que não houve a gravidez, ela começou a se preparar para a fertilização em vitro no hospital das clínicas em Porto Alegre. Depois da realização de todos os exames para que o procedimento fosse realizado, o esposo de Maria desistiu ao pensar que a tentativa fosse outra frustração. Portanto, optaram pela adoção.
“A gente fez toda a parte burocrática no fórum para isso e levamos as cópias do processo para distribuir em várias cidades aqui da região e na zona do planalto. Ficamos aguardando a chamada, porque naquela época não era nada online”, diz Maria. O momento da espera foi muito marcante para Maria até que um dia logo depois de seu aniversário ela recebeu uma ligação. Como ela não tinha telefone em casa, o telefonema veio para a casa da irmã onde a pessoa do outro lado da linha disse que havia uma menina recém nascida em Soledade, a Letícia, com cinco dias de vida que aguardava adoção.
“Perguntaram se teríamos interesse em ficar ou não com ela. Fui até lá e conversei com o pessoal do fórum. Depois de um período de exames e de acompanhamento à distância ficamos muito felizes que deu certo a adoção. Posso dizer que foi muito emocionante e foi um presente que recebi da vida depois uns dias depois do meu aniversário. Eu nasci dia 28 de outubro e ela dia 29.”
Sobre a adoção, Maria incentiva outras mulheres a seguirem o mesmo caminho. “Eu não me sinto menos mãe pelo fato de eu não ter gerado. Se a pessoa quer ter um filho e por alguma circunstância não conseguiu ter, penso que deve adotar. É uma forma de podermos tirar alguém de um lugar que poderia trazer problemas. Sempre penso que a Letícia fez mais por nós do que nós por ela. Nós duas temos uma proximidade muito grande. Laço sanguíneo pode não contar muito. Eu como professora percebo que, muitas vezes, algumas mães biológicas não estão tão próximas quanto nós estamos. A gente está sempre conectada.”
Maria afirma que ser mãe é uma graça e experiência única. “Nós duas conversamos sobre tudo e temos uma relação muito aberta. Vamos em shows e vários eventos juntas”, recorda a professora que ouviu da mãe biológica de Letícia a seguinte frase: “Eu gerei ela, mas ela é tua.”
Para Letícia Zanatta Bonni, 25 anos e estudante de Psicologia, a relação com a mãe adotiva é de parceria e cumplicidade. É uma troca que traz evolução para elas. “Somos amigas, compartilhamos muitas coisas e fazemos reflexões juntas. Crescemos em conjunto com dificuldades e conquistas ao longo da vida. Uma sempre está buscando a outra pela conexão que há. ”
Há alguns anos, quando entrou para a adolescência, a jovem decidiu conhecer a sua mãe biológica. O momento foi de construção com os pais adotivos, porque sempre houve abertura e sinceridade em relação à adoção. “Isso foi importante para o meu crescimento, desenvolvimento e para a relação com eles de amor e transparência. Também me ajudou a entender alguns processos internos e características pessoais. Meus pais adotivos sempre deixaram claro que quando eu tomasse essa decisão estariam comigo. No momento que estive com ela, eles me acompanharam e foi um momento muito importante e único. Achei bonito também o encontro das duas mães. A biológica agradeceu a de criação por ter me educado e acolhido.”
Créditos: Carolina Schmidt