Pertenço a uma geração cuja educação foi marcada pela rigidez. Respeito e obediência, porém, flertavam de perto com o medo e a incapacidade de argumentar. O enquadramento a um modelo adequado de criação dos filhos tinha nuances de exagero, injustiça e geração de traumas como consequência. Paradoxalmente também geraram cidadãos corretos, profissionais éticos, pais amorosos que são exemplos a serem seguidos.
Numa análise rasteira costumo dizer que passamos de uma geração em que nada era permitido para um modelo permissivo em excesso que se enxerga com facilidade nos mais variados ambientes. Por todo lado é possível flagrar professores que sofrem as consequências da falta de comprometimento de pais que creditam à falta de tempo e ao cansaço o cumprimento de tarefas mínimas à criação de futuros adultos maduros.
Não acredito na adoção de soluções prontas e acabadas capazes de servir como “manual de instruções para criar um filho ideal”. Tudo depende do ambiente, da cultura e da experiência de vida dos pais para dosar amor e vigilância sem tolher a liberdade dos herdeiros.
Educar filhos sempre foi – e sempre
será – uma tarefa gigantesca e difícil
“As palavras inspiram, mas os exemplos arrastam”. Este é um antigo provérbio, atribuído a Confúcio, que se aplica em nossas atitudes quando somos referência para aqueles que nos cercam. Dentro de casa isso se torna ainda mais evidente. Diuturnamente os filhos nos observam atentamente. Copiam expressões ouvidas no cotidiano, repetem gestos e trejeitos comprovando que somos inspiração permanente.
O compromisso ser uma espécie de espelho para a prole impõe a necessidade de agir com base na ética, na dignidade e no respeito ao próximo. Não existem seres humanos perfeitos, mas é preciso promover um esforço permanente para inspirar aqueles que nos veem como referência.
Jamais fechei os olhos para os exageros infringidos a mim na infância no esforço de meus pais para legar uma criação cristã e humanitária. Isso, no entanto, não embaçou o discernimento para destacar a diferença de épocas. Se hoje os riscos são maiores, fruto principalmente do avanço da tecnologia – também é verdadeiro que os pais dispõem de novas ferramentas e profissionais para buscar ajuda, orientação e apoio.
Educar filhos sempre foi – e sempre será – um desafio gigantesco porque depende de inúmeros fatores. O bom senso está, sempre, no equilíbrio. Jamais nos extremos, ensina a experiência.