Você considera o gibi literatura?
Pois bem, essa discussão tomou as rodas de discussão e das mídias, em razão da eleição para ocupar a cadeira número 8 da Academia Brasileira de Letras. Um dos postulantes à vaga criticou a candidatura de Maurício de Souza (famoso cartunista da Turma da Mônica), gerando assim muita polêmica. Suas críticas foram fortes e duras, a ponto de dizer que gibi não era literatura.
Se formos relembrar, há tempos, o gibi, de fato, foi considerado por muitos como algo inferior e que não merecia atenção e leitura e que nem entrasse nas escolas. Anos mais tarde, até me parecia, questão superada. Digo isso, pois ganhamos com eles no quesito formação de leitores e isso por si só, já merece ser comemorado.
Quero aproveitar esse nobre espaço para comentar, nem tanto, se é literatura ou não, mas, mais no ganho que obtivemos com os gibis e, também provocar o debate. Quantos de nós não lemos e iniciamos o mundo da leitura com Turma da Mônica ou Mickey. Eu mesma sou uma leitura de HQs (histórias em quadrinhos) e me considero uma leitora de literatura também. Uma coisa não impede a outra.
Se formos olhar para as histórias em quadrinhos vemos muito colorido, desenhos e vendo isso nos envolvemos com as histórias. Além disso, retratam a realidade e fazem críticas para que reflitamos. Tudo com um tom leve, atrativo.
Tudo que incentiva a leitura deve ser visto com bons olhos. Num país em que se fala tanto e também os números comprovam a pouca leitura ou quase nada de leitura, precisamos começar por uma arte, como os gibis, para atrair o gosto pela leitura. Para crianças é uma ótima ferramenta para construir leitores, pois as palavras que se fundem com as imagens geram leveza e atração para o recém iniciante no mundo da leitura. Também geram alegria, e isso deve ser um dos objetivos da leitura. Depois, cabe muito a família e a escola incentivar a leitura de obras literárias e gêneros diversos. Não se sabe se todo leitor de histórias em quadrinhos vai virar leitor nato e de obras complexas, com textos escritos robustos, mas uma coisa é certa, essa leitura não atrapalha.
A literatura para muitos é pensar em textos escritos, com letras pequenas e histórias complexas e difíceis de interpretar, além de grandes volumes de páginas. Então, diante disso uma HQ é vista como literatura pobre. Podemos racionar então, para não entrar em discussão (vê se você concorda) que é uma arte contemporânea e o melhor a se fazer antes de criticar é ler.
Podemos também considerar os cartunistas como pertencentes a uma arte independente, com características de literatura, mas também com outras artes. Tem as questões próprias como balões para fala, a linguagem híbrida, as onomatopeias; formando assim um leitor atento, ativo e que compreende a organização que desenvolve a narrativa. Para ler um gibi é preciso compreender e ter raciocínio rápido. A criatividade dos autores é algo bem peculiar e merece palmas e não críticas para as pessoas abandonarem a leitura.
O texto existe nas HQs e vale lembrar que a imagem, por si só já é um texto. Quadrinhos vão muito além da literatura. É uma viagem criativa, que perpassa texto, imagem, roteiro, sugestão de tempo, movimento, percepção de espaço, noção de sequência, criatividade.
Em tempo, a eleição foi ganha por Ricardo Cavaliere, para a Academia de Letras do nosso país, um conhecido filólogo, que não se envolveu na polêmica.
.