O dia das mães está chegando.
Além do louvor às virtudes da maternidade, a data também dá chance para um balanço sobre o tema.
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Ser mãe é uma função multifacetada e complexa, que acontece sobre o pano de fundo da época e da cultura. Ninguém pode imaginar que ser mãe signifique a mesma coisa em Seberi e em Paris. Muito menos, que seja hoje igual ao que foi há cem anos, nesses mesmos lugares. A maternidade não é comparável a um bloco de granito, que atravessa os continentes e vence os séculos com o mesmo formato.
Além disso, no interior da mesma comunidade, cada mulher vai desempenhar o papel de mãe do melhor jeito que conseguir. Este fato não garante a perfeição. Tenho para mim que a perfeição que associamos com a maternidade tem mais a ver com aquilo que gostaríamos que acontecesse do que com a realidade propriamente dita. As mães não são perfeitas, simplesmente por que são pessoas. As pessoas falham.
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Concordo que a definição de maternidade se faça pela presença do amor. Amor é ingrediente indispensável. Exatamente pela importância do amor é que a maternidade ultrapassa o evento biológico. Há mães não-biológicas que conseguem ser muito mais mães do que aquelas que gestaram e deram à luz – como todos sabemos.
A expressão “dar à luz” nos leva a outro ponto importante: o parto. Acho que o parto é mais um belo símbolo para associar com maternidade. O nascimento de um bebê é o primeiro parto. Ele se realiza em meio a dores. Por isso mesmo, aponta para um aspecto nem sempre devidamente destacado. “Parto” e “partida” são acontecimentos maravilhosos que vem acompanhados de dor. Maternidade é isso também. É conhecer a glória e a dor do parto, da partida. Melhor dito, das sucessivas partidas que o crescimento do filho vai implicando. A hora do nascimento é o primeiro parto, mas não é o único.
Para o ato de dar à luz, a natureza convoca sua força e ajuda. O bebê vai nascer, quer a mãe possa colaborar ou não. Nascer é partir. Ótimo quando a mãe pode colaborar para que sucessivos novos partos aconteçam, mesmo se ela preferisse guardar o filho sempre consigo. Antes do nascimento, o bebê pertencia totalmente à sua mãe. Ao ingressar no mundo, ele começa a se desprender. Aos poucos, ganhará autonomia, buscará seus caminhos, fará as próprias opções, construirá vida própria. O filho se realizará dentro de uma vida que pertence a ele. Maternidade é embalar o filho e é também colaborar nas despedidas.
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Por tudo isso, vale arrematar com a fala do poeta libanês Gibram Kahil:
“Vossos filhos não vos pertencem…
“Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós…
“A vida não anda para trás…
“As almas dos vossos filhos moram na mansão do amanhã… “