Recebi nas últimas semanas, dezenas de alertas com dicas para salvar, ou evitar, casamentos em crise. Acho que é em função do Dia dos Namorados que está próximo ou dos temas que disponibilizo aqui no AT. Não sou especialista, mas um veterano jornalista que especula a existência humana, sempre no sentido de torná-la mais divertida. E, nesses anos de atividade, li teses de mestrado, doutores em psiquiatria e psicologia (em alguns eu era paciente), mães de santo, pastores e padres. Alguns amigos casados, outros simplesmente teóricos. Mas optei pelos que buscam a paz casadoira.
A grande maioria valoriza o sentimento amoroso e anda preocupada com o casa-descasa entremeado de gente espiando as crises alheias e totalmente desinteressada por uma saudável vida a dois. As dicas nos sites de autoajuda chegam a parecerem ridículas quanto lidas mais atentamente: “romantismo que estimule a criatividade do casal” ou “cultivar momentos a dois”, como se o afeto fosse uma horta de leguminosas apaixonadas.
E sugerem passeios – olha, até cachorros de coleira precisam disso! Cinema? O Covid e as home box acabaram com isso (e com a vida amorosa dos preguiçosos). “Sair para dançar…” OK! “Criar oportunidades para o lazer, não só rotinas e obrigações cotidianas”, tudo isso em livros sobre a vida dos casais… Mas qual a novidade, senhores? Agora, mais essa: “exercite a mente com pensamentos estimulantes ou excitantes durante momentos diversos do dia: pensar em sexo é um grande afrodisíaco”.
Não acredito! É verdade? Imaginem este gordinho que vos digita tendo uma ideia sexy até alguém o chamar com urgência na sala da chefia. Constrangedora situação. “Hum… Sim? Responderei languidamente, enquanto o corpo se prepara para algo melhor que não acontecerá. Ah! Os conselheiros profissionais afirmam ainda que as mulheres adoram elogios. Isso é inédito! Como não percebi antes?
Em outras palavras, não existem segredos ou mistérios. O que não podemos é nos transformar em gente sem graça. Do tipo cercada de parentes chatos, amigos mais inconvenientes ainda e uma administração errática do cotidiano, o tempo inteiro. Tem hora para tudo. O cunhado mala, a sogra carente, o sogro ranzinza. Família, enfim! Passear faz bem? Mas como evitar de levar a família inteira, quando estes vivem com o casal e não dão folga? Chatos!
Como sensualizar durante o dia, se à noite já é trabalhoso convencer uma das partes a uma relaxante rapidinha? Imaginem um deles à tarde, administrando o lar, abraçados em baldes e esfregões, ou no escritório, com um chefe que fiscaliza cada tomada de ar mais longa, tipo suspiro, olhar perdido em pensamentos gozosos (interpretem o termo como bem entender). O cansaço é idêntico, a rotina segue o mesmo caminho e predomina quando agimos assim.
Na grande maioria das vezes, não são os casais a errar. É a chatice coletiva que impera e os transforma nisso que está aí. Colegas de trabalho sanguessugas, missões profissionais tão impossíveis quanto aquelas dos filmes. Mas o teu marido sempre foi um mala sem alça? A tua mulher é uma infeliz que só sabe reclamar?
Bom aí a culpa é sua e, então, reconheça que a coisa pode piorar. Quem mandou ser inseguro e achar que nesta idade (essa mesmo!) não pegaria mais ninguém? Ora, quem se ama, confia mais e seleciona melhor. Mas este assunto também é tema de outras literaturas e, principalmente, vivência, talvez menos óbvias. Quem sabe assim, se encontre a melhor solução anti-chatice?